<$BlogRSDUrl$>

mardi, septembre 30, 2003

Trovoada 

Cinco horas da tarde. Trovoada em Lisboa. Pena a minha janela, aqui ao Chiado, não ter vista para o Tejo.
Ao longo da última semana a paisagem mudou de cores, passando do brilho transparente das manhãs de Verão, às cores escuras e negras do Inverno que ainda há-de vir.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Chuva 

Chegaram os tempos da chuva, do céu cinzento a tapar o brilho do sol e a levar-me a alegria que ainda me resta.
Pela janela do comboio vejo campos alagados, por entre as gotas de água que escorrem vidro abaixo.
CC
abcd2003@tiscali.fr

lundi, septembre 29, 2003

Desabafo de meio de tarde 

É a monotonia. Este passar dos dias todos os dias, iguais. Sempre o mesmo. Sempre os mesmos. É a monotonia que me cansa. O mesmo vai e vem, todos os dias.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Blog de anotar a vida 

Isto é um caderno de anotar a vida e o que me dá na real gana. Não é um diário. É algo escrito precipitadamente. Como se a língua em que escrevo tivesse os dias contados.
A ansiedade domina, domina-me. E eu escrevo. A pressa de escrever contamina-me. Escrevo. E escrevo. E há sempre saltos e lacunas, inventadas memórias, teorias precárias, esboços de histórias mais que acabadas, e nunca começadas.
A vida. A viagem. A viagem prometida, desde 28 de Fevereiro de 1967 – não sei por quem, quem fez essa promessa? -, é cumprida a custo, como a vida.
A morte, essa… A morte é a possibilidade do impossível, o que me percorre como um estranho modo de vida.
Como qualquer um, conheço o medo, o arrependimento, a falta. Como nenhum, sou quem sou, único e só.
O meu caderno de anotar a vida e o que me dá na real gana, não é um diário. É um estilhaço de um espelho que se quebrou sem querer, com os dias contados.
Que se foda! Sou apenas, nesta vida, neste mundo, um passageiro com ataque de pânico. Nada mais. Nada mais. Nada mais simples, ou mais, ou menos, complicado. Só isso.
Escreve o que és. Só isso. É só isso, o meu caderno de anotar a vida e o que me dá na real gana. Escrevo o que sou, o que gostaria de ser. O que não sou e o que não quero ser, e às vezes sou. Mas não se pode querer ser sempre tudo, e conseguir tudo o que se quer, ser.
CC
abcd2003@tiscali.fr

A entrevista do Monteiro à  NTV... 

«O Professor Marcelo Rebelo de Sousa é quase como uma governanta que está sempre à  espera que a patroa morra para se tornar na dona da casa», disse Manuel Monteiro, no sábado passado, em entrevista à  NTV, depois de ter dito que o professor «se fosse mesmo bom seria primeiro-ministro e não apenas comentador polí­tico.» E, a seguir, ainda teve tempo para explicar «aos portugueses e portuguesas», que não saberia em que grupo político se iria sentar no Parlamento Europeu, caso seja eleito, ao mesmo tempo que garante que a «Nova Democracia não é o Partido do Manuel Monteiro», nem que serviu para se «vingar» do ex-amigo Paulo Portas. Por outro lado, mostrou-se ambicioso ao dizer que não pretende roubar votos ao CDS, pois «se pensasse em competir com um eleitorado que representa apenas 8% dos votos» estaria a iniciar um projecto morto à  nascença.
Eu, que sou do CDS desde que tenho consciência polí­tica, o que penso?
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa pode continuar a ser a «governanta», mas governa-se com o ordenado ganho com o seu trabalho de comentador polí­tico e com o seu ordenado ganho como professor universitá¡rio.
O Dr. Manuel Monteiro não quis, como «governanta», esperar que o patrão morresse e decidiu despedir-se do CDS e ir à  sua vida. Só que não se tornou, pelo menos ainda, na dona da casa; ainda que outra.
O professor Marcelo, se tivesse ambição e vontade par tal, poderia ser o candidato presidencial da direita. Não o é por opção própria; prefere continuar a ser a «governanta» que trabalha e se governa. Quanto ao facto, confirmado pelo próprio Manuel Monteiro à NTV, de, caso seja eleito para o Parlamento Europeu, não saber em que grupo político se deverá sentar..., bem, isso só me cheira a vingança, a formar primeiro a Nova Democracia e a pensar depois no que ela será.
Eu que sou euro céptico, anti-federalista e de direita, sou também Monteiro céptico. Boa sorte Manuel Monteiro, que «roube» muitos votos aos socialistas, aos comunistas, à  esquerda caviar do Bloco de Esquerda e, já agora, aos sociais-democratas.
E já agora, gostava que o Pacheco Pereira tenha ouvido a entrevista. Pois se quer comparar alguém à  Frente Nacional do Le Pen, os ideais e as ideias estão lá todos, na entrevista à  NTV.
Gosto muito do Abrupto e por isso mesmo gostava que o JPP deixasse de lado o seu ódio de estimação pelo Paulo Portas. Mas, parece-me impossí­vel, principalmente depois de o ouvir no seu comentário de ontem na SIC:
P.S. - Parece-me que o Cataláxia, de quem também gosto de ler, não vai morrer de amores por este post.
CC
abcd2003@tiscali.fr

samedi, septembre 27, 2003

Consciência 

Seis da tarde. Acabou o sol, que deu lugar à noite, acompanhada da Lua, e das estrelas escondidas entre uma e outra nuvem. Os automóveis começaram a acender as luzes, de modo a enganar a escuridão. Os candeeiros de rua continuam apagados, ainda desorientados, enganados, pela nova hora – um Inverno em que os termómetros persistem em não descer abaixo dos 22ºC.
Acendi um cigarro. Olhei para o empregado de mesa como quem quer alguma coisa – e queria mesmo. Pedi um gin. O segundo; a pensar na vontade que tenho de beber uns atrás dos outros. Só para ter a consciência de que fico inconsciente. Que esqueço tudo o que me lembro. Que lembro tudo o que me esqueço. Sentir que não sinto nada, nem me sinto a mim. Nem ao mundo. Os outros.
Levantei a cabeça enquanto fumava mais um pouco do meu cigarro – já quase no fim; tal não é a ansiedade provocada pela falta de nicotina -, e reparei novamente na rua. Na rua cheia de carros, de pessoas que sobem, outros que descem, direitas ao seu destino – e outras sem destino. As luzes dos candeeiros de rua começaram a acender-se, assim como que a medo, num pisca-pisca, apaga-acende.
A noite caiu e a cidade ilumina-se. É a vida com luz. Uma roda vida de carros e gentes com pressa, sempre com pressa. E eu, sem pressas, borrifando-me para o tempo, o tempo que passa. Se pudesse parar o tempo, num tempo certo, deixava-o parado ali, para sempre, naquele momento, um momento certo, definido, lindo.
CC
abcd2003@tiscali.fr

jeudi, septembre 25, 2003

Tenho de fazer e muito em que pensar 

Já nada poderá parar o que comecei. Penso nisto, e repito-o devagar.
O que mais quero é guardar aquelas imagens para sempre – as de alegria -, porque as de tristeza quero esquecê-las: aparecem-me todos os dias. Um minuto, um segundo, um pouco de alegria... o que mais quero é guardar aquelas imagens para sempre, e depois sair, de onde estou, o mais depressa possível, e levar comigo a memória.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Libertário 

Sendo de direita - não social-democrata e muito menos liberal de esquerda; costumo apelidar-me de Libertário -, pensei, à partida, em escrever aqui umas coisas sobre política económica. Ainda não o fiz. Falta-me o tempo e a pachorra. Por isso apenas me tenho entretido a "meter" com o Abrupto, com quem não embirro. Pelo contrário. Adoro o blog do JPP.
Ainda não o fiz e não o vou fazer hoje. Dou apenas os parabéns ao Ministro Bagão Félix pelas mudanças anunciadas no subsídio de desemprego.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Antecipação da noite 

A noite está a cair. O dia desaparece pouco a pouco. O tempo passa. E as luzes, que não aumentaram de intensidade, parecem agora mais intensas. Ficaram mais potentes face ao escuro do céu. Impõem-se à escuridão, acompanhadas –e ajudadas -, pelos faróis dos automóveis, das sirenes das ambulâncias e dos carros da polícia.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Anónimo, sim. 

Perguntaram-me hoje porque quero eu continuar anónimo. É simples, ficaria com toda a minha reputação fodida. A cidade é pequena. Todos se conhecem. Todos sabem o que os outros fazem, o que os outros dizem, o que os outros pensam. Todos sabem quem fode com quem. Sabe-se tudo de todos. A cidade é mesmo muito pequena.
CC
abcd2003@tiscali.fr
PS - Hoje estou mal disposto.

mercredi, septembre 24, 2003

Eu tinha razão... 

Há uns post's atrás eu disse, acerca de JPP, gostar de ver sempre alguém de esquerda a comentar seja o que for na TV. E, agora que tenho lido o Abrupto com mais atenção, li a prova da minha razão. Diz JPP:
«Mas não me venham agora com essa fantasia absurda de que a nossa comunicação social é dominada pela direita. Para além disso, eu não sou de direita.»
Eu, que sou de direita, sabia que havia de ter razão.
De qualquer modo, gosto sempre de ouvir o JPP, que é um homem que também sabe ouvir.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Fim de tarde 

Pela janela consigo ver um campo enorme de relva, umas quantas palmeiras e o brilho das luzes que começaram a acender-se. Os carros não param de andar de um lado para o outro, uns para trás, outros para a frente; os condutores - principalmente os taxistas -, com cara de maus amigos, dão a entender que não se cansam de buzinar. Enfim, estou na cidade, no meio do corre-corre citadino, do stress, da loucura da corrida contra o tempo, das corridas até aos transportes públicos, das brigas por um táxi, no meio do barulho, contí­nuo e irritante, na qual já, há muitos anos, me habituei.
Olho à esquerda: um pequeno acidente interrompe uma faixa da estrada. Olho à direita; uma ambulância lança luzes azuis por todo o lado - certamente com o toque de sirene ligado no máximo.
E eu aqui, sentado, ainda no trabalho, calmamente, sem ouvir nenhum destes ruí­dos, graças às novas tecnologias, aos vidros que insonorizam as salas. O que oiço é apenas a música de fundo do telefone da colega do lado, também ela acelerada como a cidade.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Meu querido Portugal 

A minha querida Pátria anda, ainda, de rastos.
Quem não tiver a genialidade poética do Quim Barreiros e a pureza de voz do Zé Cabra, não se safa...
CC
abcd2003@tiscali.fr

USE - União Socialista Europeia 

A Comissão Europeia está cada vez mais socializante. Define as regras dos Estados soberanos (ou cada vez menos), a seu bel prazer. Esta história da "necrologia" nos maços de cigarros já enjoa. Comecei a ter vergonha de mostrar o meu maço de tabaco em público. Sempre que quero fumar, tiro um cigarro às escondidas, quase sem tirar o maço do bolso.
Dentro desta linha - que deve estar a dar terríveis dores de cabeça aos homens do marketing e do design -, aguarda-se que os novos automóveis venham com enormes autocolantes negros nas portas - "a velocidade mata" -, que as garrafas de Gin passem a ter fotografias de fígados desfeitos, os preservativos tenham inscrito "se romper pode apanhar Sida"...
A continuarmos assim, ainda há-de chegar o dia em que a USE - União Socialista Europeia, já federalista, nos diga, por decreto, o que devem as criancinhas comer ao pequeno almoço e quantas vezes por semana devem fazer sexo os adultos.
Já agora, quanto aos novos cigarros "Marbelo", qual é o problema? Agora os maços não são mesmo todos iguais?
Independentemente da marca que se fuma, basta pedir uma caixinha de "necrologia".
Safa!
CC
abcd2003@tiscali.fr

Achille, um novo grupo belga 

Há um novo grupo belga, chama-se Achille.
Alguém quer dar uma vista de olhos e ouvir um pouco? São um tanto ou quanto esquerdóides. Mas têm lá o português Da Palma e gostavam de gravar um disquinho.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Necessidade de Pensar 

Chegou à estação da Chança, no Alto Alentejo, com a antecedência do costume. Faltava ainda meia hora para a chegada do comboio. Era o único passageiro e por isso poderia depreender-se que não teria ninguém a quem perguntar e ninguém que lhe perguntasse o que quer que fosse. Mas na Chança, como em todas as pequenas aldeias do Alentejo, as pessoas vão para a estação, não para apanharem o comboio, mas para o verem passar e ficarem a saber de quem chega e de quem parte.
Sentados no banco, por debaixo do relógio da estação, que marcava 4 horas e 15 minutos, estavam sentados três homens, velhos, nos seus 70 e tal anos de vida e muita amargura no coração.
- Ó homem, sente-se aqui - disse o do meio.
- Obrigado, mas o comboio está já a chegar, e... -, replicou António, sem a mÃínima intenção de entrar em conversação com quem quer que fosse, sobre o que quer que fosse.
- Mas, vai ficar meia hora de pé, a olhar para os carris, amigo? - insistiu o da ponta direita.
- Desculpe, preciso de estar sozinho. O que vou fazer é um desafio enorme. Ainda o estou a tentar medir. A medir-lhe os prós e os contras. E, por isso, preciso de o fazer sozinho. Não me leve a mal, não se trata de má educação. Desculpem-me. Mas agradeço a atenção.
- Esteja à vontade então. Ó homem pense no que quiser sozinho, se é disso que precisa.
António esperou os trinta minutos de pé, a olhar em frente, até ter avistado a carruagem ao longe. Pegou na pequena mala, a sua única bagagem, e pôs-se muito direito, como se estivesse a assistir a um acto solene, à espera que o comboio parasse. Naqueles 30 minutos, António - aquele que não se quis sentar, que não quis conversar, porque tinha de pensar -, não pensou em nada.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Pensamento do dia 

«Eu gostava de viver como um pobre, mas com muito dinheiro.»
Pablo Picasso
abcd2003@tiscali.fr

O dom de JPP 

José Pacheco Pereira facilmente consegue lançar a polémica. Mesmo estando distante da Pátria. Primeiro desancou no seu ódio de estimação, Paulo Portas, ministro da Defesa, e todos os órgãos de comunicação falaram do tema até à exaustão. No domingo criticou uns simples cartazes do Santana Lopes e não há quem se cale sobre o assunto. Hoje é o tema da SIC Notícias… Mas Pacheco Pereira, no seu Abrupto, diz assim: «COMPETIÇÕES, TACO A TACO, VITÓRIAS E DERROTAS, SOBE E DESCE, PINGUE-PONGUE, PARADA E RESPOSTA, E O MAIS QUE A FÉRTIL IMAGINAÇÃO DESPORTIV0-JORNALÍSTICA INVENTARÁ
não contam comigo. Ficam a falar sozinhos.»
É caso para perguntar: e isso é democrático? Este é o maior dom de JPP: lança a polémica, mas não contem com ele para a continuar. Lembram-se do jogo do “toca e foge”? Boa táctica. Mas, não acredito que o JPP fique calado se tiver mesmo vontade de falar; não faz o género dele. Bem, estou ansioso pelo próximo jornal de domingo na SIC; qual será a próxima polémica? Isto promete.
CC
abcd2003@tiscali.fr

mardi, septembre 23, 2003

Querida: 

«As modas passam. O que é belo permanece» Robert Doisneau.

Quando as palavras não são suficientes, o melhor a fazer é ficar em silêncio.
Mas... não consegui. Porque a vida seria melhor contigo a meu lado, sei que a ferida vai demorar algum tempo a sarar. E antes de dizer adeus tenho de curar esta ferida.
No entanto, para todas as coisas há uma maneira má de escrever, e há também uma maneira boa. Se escolhermos a boa maneira, aguentamo-nos melhor.
É sempre tempo de lembrar. De dizermos a alguém quanto a amamos. E de lhe oferecer o melhor que temos. Sim, são simples palavras. Mas podem ser mais sentidas que carinhos físicos; vêem-me do fundo do coração.
As cartas de amor são ridículas, sempre o foram. E esta muito mais o é, uma vez que já não faz sentido, pelo menos para os dois.
Mas penso que o prometido é devido e por isso te envio a minha primeira carta, escrita há meses. E uma outra recente, que é de amor, ridícula, caricata (pensa o que quiseres), mas que fala sobre os fortes sentimentos que continuo a sentir por ti; talvez alguns dos pensamentos não passem de meros desabafos, mas não consigo imaginar outra pessoa a quem os contar, a não seres tu, que gostaria ter-te, ao menos, como amiga. De te puder telefonar e dizer-te «estou aqui, vamos beber qualquer coisa?», e tu dizeres que «sim».
Por outro lado, queria deixar-te uma lembrança, num canto do teu coração. Aceita-a!
Pensa o que quiseres, faz o que quiseres com estas linhas. Podes guardá-las como a recordação de um momento lindo da nossa vida, um sonho, ou deitá-las para lixo e esquece-las.
Por mim, que já te perdi, não tenho nada a perder em escrever, porque uma queda do terceiro andar magoa tanto quanto uma queda do centésimo andar. Se eu tiver de cair, que caia de lugares bem altos.
As cartas, mais do que os beijos, juntam as almas.
Despeço-me por tempo indeterminado ou para sempre. Ou até que o destino nos una novamente.
Fica com o meu coração e volta sempre!
Leva Tudo de Mim.
Beijos.
CC

P.S. 1 - Escrever é um dos sistemas mais simples e mais profundos para tornarmos tudo claro dentro de nós e para transmitirmos a memória da nossa existência. Por isso, de vez em quando, temos de ir documentando as nossas alegrias. Para garantirmos uma velhice de recordações adoráveis.

P. S. 2 - Sim, não resisti ao teu olhar lindo, verde, enigmático, magnético. E avancei! A medo, é certo! Mas não descansei enquanto não comecei a conversar contigo. Sim, não descansei enquanto não te beijei (ou fui beijado) apaixonadamente. A vontade de conhecer arranca do espanto inicial. Foi o que me aconteceu contigo. Fiquei espantado ao ver-te! E, quando nos dirigimos para o hotel, apesar de ser casado, pensei: «faz hoje. Duvida amanhã!». Foi uma noite fantástica. Inesquecível! Senti-me como Alice no país das Maravilhas. Agora vou contigo até ao fim do mundo.

P.S. 3 - «Um homem resiste a tudo, menos às tentações» Oscar Wilde
Foi em Paris que te vi pela primeira vez; surgindo das trevas de um bar situado entre a Place Vandôme, a Rue Saint-Honoré e a Avenue de l'Opéra, do qual esqueci o nome. Estavas encostada a umas escadas. E pensei: quero-te nos meus braços para sempre, ou, pelo menos, por esta noite. E tive-te. E amei-te! Às vezes o inesperado acontece. Logo pensei, se isto é um sonho, não quero acordar nunca.
Olhei para ti e os teus lindos olhos verdes diziam que sim. Jamais deixei de seguir os teus passos, e esses cabelos castanhos claros, esse sorriso sensual, de gata.
Quando começámos a falar senti um arrepio pelas costas acima; ainda hoje, cada vez que me lembro desse instante, sinto o mesmo arrepio, de felicidade. Sim, foi uma conversa apaixonada. Tanto que acabámos a dormir juntos. E desde esse dia nunca mais nos separámos. Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram. E numa noite passámos noites e noites, sem fim, meu amor...
Estava escuro, naquela noite fria de 26 de Novembro. Mas os teus olhos iluminaram-me o caminho. E o teu amor aqueceu-me o corpo. Agora o nosso amor vive de cores intensas e brilhantes, o que lhe confere uma longa duração.
É, conheci-te num dia frio, mas descobri que podes ser quente como o Verão. Para ti, talvez o dia de hoje não seja a simples continuação do dia de ontem. Pensa, tens todo o tempo do mundo à tua frente. Todo o mundo à tua espera. Nunca te esqueças de uma coisa: a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo! Se puderes, ou, principalmente, quiseres, cria-o em conjunto comigo.

P.S. 4 - Ainda tenho mais uma palavra para te dizer. É muito simples: AMO-TE!
CC

Fui ao médico e fiquei doente 

Hoje fui ao médico. Não, não estou doente, ou não estava. Entrei no consultório um pouco antes da uma da tarde e esperei pela médica, quase até desesperar. Estive três horas e meia sem almoço... Quando chamaram pelo meu nome estava uma assistente, bem bonita, a oferecer-me um copo de água com açucar - o que me leva a acreditar que o Serviço Nacional de Saúde por vezes funciona.
CC
abcd2003@tiscali.fr

lundi, septembre 22, 2003

Até amanhã 

Tenho muito em que pensar. E penso em nada. Sei bem daquilo que falo, daquilo que penso. Quem me espera? Espero eu por quem? Ninguém e não penso em nada. Nada. Assim sou eu. Assim penso eu, sem pensar em nada. Sozinho. Só. Mas posso pensar, sou livre de o fazer, de pensar.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Estou a adorar esta coisa dos blog... 

O que mais gosto nisto dos blog's é continuar a ser um ilustre desconhecido.
Ninguém me conhece e nem às paredes confesso.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Acabou-se a Política XXI. Ufa! 

Segundo o A Praia, «Parece que a Política XXI vai ser extinta no fim-de-semana, dez anos depois de ter nascido.»
Até que enfim! Já agora, pode-se fazer o mesmo com a Nova Democracia? A bem do paí­s, claro.
CC
abcd2003@tiscali.fr

 

Estava sozinho. E ainda não tinha reparado. Só. Mesmo só. A dançar a dança da vida, só, sozinho. Sem ninguém por perto, sem ninguém que me aconchegasse, que me dissesse isto ou aquilo, que me criticasse, a bem ou a mal.
Foi só, sozinho, que optei por aquilo que sou hoje. Mal ou bem. Mas, sempre sou alguma coisa, alguém. Não jogo futebol, nem ganho milhões, não concorri a nenhum concurso de televisão que me tornasse famoso, nem sou artista porno. Sou apenas eu. Para o mal e para o bem. Só eu. Não sou um completo inútil... ao menos sirvo de mau exemplo.
Mas, nem, sempre sou alguém. E depois?! Há por aí alguém que tenha alguma coisa a dizer? Não acredito que haja, pois, eu, não estive nunca num reality show! Ninguém me conhece, e ainda bem! Sou, simplesmente, anónimo, no meio de uma multidão. Não é agradável, mas a vida é a vida.
Até aprendi a rir. Às vezes rio brutalmente. Mesmo quando não estou contente, para afastar a infelicidade. Depois penso. Penso em quê? Em nada, talvez. Em tudo, talvez. Talvez.
Penso, sim. Penso sempre. Sempre, naquela viagem que quero fazer. Uma viagem que começa e nunca mais acaba. Que viagem? Sei lá.
Que viagem? A minha mãe? Poderá dizer-se que começou com a sua morte? O começo de uma coisa é o fim de outra que começou noutra. Viajo desde o ventre da minha mãe. Foi muito cedo, mas já era tarde demais.
A Viagem? Bem, entre os Valium e os Bloody Mary’s, só me lembro de chegar ao aeroporto e pegar nas malas. Sinto-me a fazer uma viagem dentro de um labirinto.
Perco-me. Estou perdido no meio de tantos pensamentos, que me vão ocorrendo ao longo dos anos.
Quantos anos? Já tenho de fazer as contas, por vezes. Trinta e... Quer dizer trintão? Penso em quando tinha vinte e olhava os de quarenta. Quantos homens célebres morreram aos trinta, aos quarenta? Parecia-me outrora que era uma idade bastante. Penso agora: como? Sou ainda tão novo... Não fiz ainda nada, e há tanto a fazer!
Mas. Não me resta desejo algum. Não me resta amor algum. Nada. No entanto, o tempo é o melhor conselheiro.
Que horas são? A noite desceu devagar, entrou-me dentro de casa, a minha mão anoitece. Anoitecem os meus olhos, ò Deus, tão cansados. É uma hora solene, escrevo, escrevo. Escrevo sempre, mesmo quando nada tenho para escrever.
Noite plácida e grande.
Inspiração. Vem-me do espaço vazio, do silêncio eterno, da grande lua que vai subir no horizonte. Mas vem-me! Virá?
E penso. E lembro. É evidente que os mortos me lembram – eu disse que me não lembravam?. Lembram, mãe. Só não quero que fales. Faz apenas o que costumas fazer. Seduzir todos os que estão à tua volta. Nada mais. Faz-me viver de pequenos grandes encantos. Sempre tive curiosidade em saber quem iria ao meu enterro. A emoção, os sentimentos, as lágrimas. De tristeza e felicidade, de saudade e de inquietação. Até ao fim do mundo, onde se acabam todas as preocupações.
Quando a noite, como um vento, me devasta de terror, quando o silêncio é tão profundo que me oiço ser, lembro-me, sempre. E então é preciso uma coragem brutal para me não matar. A vida é tão adversa ao bem-estar, tão sinuosa, tão infeliz, que, cada vez mais, acredito que a morte não é o fim mas o princípio de qualquer uma outra coisa que desconheço. Descansa, não me matarei. Por enquanto, não. Tenho de ficar, nem que seja apenas para esclarecer as coisas.
De vez em quando grito para me ouvir, para me não esquecer de que estou aqui. Mas é terrível. Alguma coisa em mim, sem que eu saiba, está à espera de que lhe responda e fica assustada porque ninguém responde. Não domino nada. Conheço apenas a minha fatalidade. Nada mais.
A explicação do que sou, do que faço e vivo, é tão ridícula. No fim de contas, apenas constato. Sei o quê? Não sei nada. Vou aprendendo.
E no entanto aí, ainda e sempre. Ah, sim? Mas como? Não vivo com ninguém. Estou só. Na solidão absoluta. Que fiz eu da esperança?
Ando com a cabeça completamente perdida. Mas quero voltar a colar todos os cacos da minha vida.
Preciso de matar a memória, por agora. Não quero chorar, arre, já disse!
Deus me perdoe se estou em falta, mas doutro modo não consigo ser eu. Estou ainda onde me deixaram porque não tive razões para mudar. Saudade.
Saudade é solidão acompanhada É amar um passado que ainda não passou. Sentir que existe o que não existe mais.
Merda!
Não quero nada. A única conclusão é morrer, já dizia Pessoa. Lá por ser um sonho não quer dizer que nunca venha a acontecer. Que mal fiz eu? O meu primeiro instinto é ficar calado, mas não consigo. Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham paciência! Meu Deus, dai-me paciência... mas tem que ser já! E, repetindo Pessoa, claro! Que outro podia ser?
Já, não. Não pode ser. Tenho uma entrevista. Vou entrevistar alguém. Arranco do bloco de notas, puxo da caneta e escrevo. Aquilo perturbou o meu entrevistado, que deixou de falar. Eu, porém, escrevo ainda, escrevo sempre. Possivelmente coisas que ele não disse. Por vezes escrevo como quem cumpre um horário. Talvez escreva à família. Mas escrevo, continuo a escrever. Todos os dias nascem palavras, todos os dias morrem palavras. O homem escandaliza-se. E depois? Nasci para escandalizar. É o único modo de se estar vivo. E continuo a escrever. Escrevo.
CC
abcd2003@tiscali.fr
P.S. - com uma ajudinha do Pessoa.

Blondes..... 

C'est un policier qui interroge 3 blondes aspirant a devenir
enquêteuses...
Il les teste pour savoir a quel point elles sont physionomistes.
Il montre une photo 5 secondes a la première et la cache puis il
lui dit :
"C'est un suspect, comment tu fais pour le reconnaître?"
La blonde répond : "C'est facile, on l'attrapera vite, vu qu'il n'a qu'un oeil."
Le policier répond : "Ben.. heu... c'est sur, mais c'est surtout que la photo est prise de profil ! " (la vache... elle est grave celle-la...).
Un peu désabusé, il montre la photo a la deuxième blonde, puis la cache et dit:
"C'est un suspect, comment tu fais pour le reconnaître ?"
La blonde répond: "C'est vraiment trop facile... il n'a qu'une oreille."
Le policier devient a moitie fou et répond:
"Mais p'tain qu'est-ce que vous avez toutes !!???? C'est sur qu'il a qu'une oreille,c'est une photo prise de profil je viens de le dire!!!!!"
Passablement décourage il montre la photo a la troisième blonde, la cache et lui sur un ton qui nous ferait a tous pitié: "C'est un suspect, comment tu fais pour le reconnaître?..il rajoute " ..réfléchi bien avant de me dire une connerie..."
La blonde réfléchit donc... puis répond : " hum... c'est facile, il porte des verres de contacts!!".
Le policier surpris n'en revient pas... merde alors... il en sait rien du tout si ce suspect porte ou non des verres de contact...
Alors il se casse et va vite fouiller dans ses fichiers et revient.
Il dit: "Punaise... j'en reviens pas... C'est VRAI !! Il porte bien des verres de contact !! Comment as-tu fais ??????"
La blonde répond calmement : " Ben c'est simple, il ne peut pas porter de lunettes, vu qu'il n'a qu'un œil et qu'une oreille."
abcd2003@tiscali.fr

Pacheco Pereira na SIC 

Vi ontem o Pacheco Pereira na SIC. Gostei (é sempre bom ver alguém de esquerda a comentar seja o que for) e não gostei. Gostei do que disse, mas não como disse. É o estilo. Mais parecia uma aula. Quanto ao que disse sobre o Muito Mentiroso (nem faço link...), tem toda a razão; alguém que investigue. No próximo domingo vou voltar a vê-lo, ao mesmo tempo que faço zapping para o único programa que vejo na TVI: O Professor Marcelo.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Dia sem Carros... 

Adoro dias como este, o "Dia sem carros". É demagogo, hipócrita, nada resolve.
Amanhã cá teremos todos os automóveis de todos os dias. É um daqueles dias que me faz lembrar o dia contra a burocracia, em que primeiro os governantes elaboram um despacho a autorizar a existência de um "Diário da República" de cor verde. Ou seja, para matar a burocracia é preciso burocracia.
E, este dia sem carros, deixa qualquer pai sem resposta...
Hoje, uma das actividades escolares da minha pequena filha é passear-se pelas ruas - que hoje não têm carros -, e pintar uns bonecos engraçados no alcatrão. Que me vai ela dizer amanhã quando a repreender por querer atravessar a estrada sozinha?
CC
abcd2003@tiscali.fr

vendredi, septembre 19, 2003

Mãe... 

Foi há 57 anos que tudo começou. Eras para ser Fátima. Mas as ideias, tal como a vida, dão muitas curvas e contra-curvas. E ficaste Elvira. E com o nome de dois bichos que tanta confusão te fizeram em pequena: Cordeiro e Coelho.
Foi há muito tempo que tudo começou. Mas foi também há muito tempo que acabou (pelo menos por aqui). Há 24 anos. O tempo de vida de um adolescente, como o Luís. Não tiveste tempo de acabar aquilo a que te propuseste.
Tinhas 37 anos, mais um do que eu tenho agora. Cada vez percebo melhor como foi curta a tua vida terrestre.
Hoje farias anos. Lembras-te? Mas não há bolo, nem velas, nem canção. Não há nada, porque não «hás» tu!
Que saudades. Saudades de me lembrar daquilo que me lembrava de ti. Um sorriso, uma repreensão, um sim, um não. O cheiro, as expressões... Que saudades! E tudo isso, às vezes, não passa de uma recordação com muita névoa, por onde é preciso espreitar com muita atenção. Eu tinha apenas 12 anos, e o Luís 5, lembras-te?
Aí onde estás também festejas o dia de aniversário? Qual é?
Os sonhos matinais desaparecem rapidamente. Com a vida pode acontecer o mesmo. E foi assim que aconteceu contigo. Desapareceste depressa de mais. Sem aviso prévio. Fiquei desolado e confuso.
Na minha alma há um canto meu, infernalmente recordado, dorido, de uma noite que chegou sem avisar.
Mas não vale a pena voltar ao passado, pois o tempo não volta atrás! Esconde-se atrás do lado escuro da Lua. No entanto, não consigo esquecer. Nem ficar calado. Por vezes falo demais. Mas como calar-me com tantas palavras? Não consigo. Gosto de vomitar tudo o que penso e sinto. Não fujo às marés-baixas. Apanho todas as ondas do mundo.
No entanto, fiquei com um nó na garganta, pus-me a imaginar as lágrimas que não me vinham aos olhos.
Como (ainda tiveste tempo) me ensinaste, continuo a acreditar na magia dos meus sonhos. Porque nesse mundo nada pode entrar e destruir, seja o que for.
Mãe, que saudades. Tuas e da minha infância, que saudades da noção de tempo ilimitado. De tudo poder ler, ver, ouvir, fazer o que nos dá na real gana.
Mas, a verdade é que a vida é dura, a terra é teimosa e a ciência rica em conhecimentos, mas pobre em resultados práticos (tu que o digas!).
Viveste pouco. E não tiveste uma vida muito feliz. O meu pai também não ajudou. A propósito, uma piada, daquelas que costumava-mos contar quando estávamos sozinhos em casa: Hemingway assegurava que «um homem não existe até estar bêbado». Antes como depois da tua partida, o pai tem existido todos os dias.
Sabes, descobri que a única coisa de que se precisa para ser feliz é de tempo. Muito tempo (aquele que não tiveste). A felicidade é, ao fim ao cabo, uma questão de longa paciência. Realmente, paciência foi coisa que nunca te faltou. O problema foi o tempo.
Sabes, tenho quase a idade que tinhas quando partiste. À medida que envelheço, cada vez mais me convenço mais, que talvez aquilo que consideramos como o passar o tempo, apenas acontece porque contraímos o hábito terrivelmente enraizado em nós de contar as coisas - os dedos de um recém-nascido, o nascer e o regresso do Sol... - pensamos tantas vezes em quantos dias têm de passar, ou quantas estações, antes que o nosso filho cresça novamente e nasça, ou se dê um encontro há muito desejado, e os registamos pelo decorrer do ano e do Sol.
Sei, e percebo, que não podes voltar de novo à vida, não podias voltar a lutar e a sofrer e a conviver com o ódio daqueles que um dia te amaram. Mas, quem me dera que estivesses aqui, apesar de saber que ilusões, só fabricadas!
Por um bom par de anos, a família até foi feliz. Não fosse a vida a merda que é e teríamos sido felizes para sempre.
Quem me dera que estivesses aqui, com esses teus cabelos castanhos, esses olhos dóceis e um sorriso que punha todas as pessoas à vontade. Mas não pode ser.
Penso que estejas no Céu. Num sítio onde me podes ver. Por vezes, chego a acreditar que estás aqui, ao meu lado, como se fosses o meu Anjo da Guarda.
Fica sabendo de uma coisa: nunca te deixarei fugir. Ficaste-me no coração!
Saudades! Até pode ser um sonho, há muito sonhado, e sempre repetido. Mas, não te vou deixar fugir.
Estou sempre à tua espera. E quando não posso esperar mais, sonho, sonhos acordados ou dormidos.
Sabes, nestes 24 anos (ao tempo que não nos vemos...) muita coisa mudou.
Lembro-te sempre! Com saudade!
Quando é que morrem os mortos? Quando nos esquecemos deles! Nunca hás-de ser esquecida. Mãe!
CC
abcd2003@tiscali.fr

mercredi, septembre 17, 2003

Mais-que-Tudo 

Fala Mariana, aquela que vem reformular as gerações...

Até hoje nunca soube quantas noites e quantos dias passei no país das fadas. Mesmo agora a minha mente confunde-se quando tento contá-los. Por mais que tente não consigo contar menos de cinco e mais de oito meses. Não tenho a certeza de quanto tempo passei no mundo interior, enquanto lá estive, mas como a humanidade tem melhores registos do tempo do que o povo das fadas, sei que cerca de uns nove meses se passaram.
Uma coisa eu sei, tenho andado por uns belos caminhos, sem pressa e sem rumo obrigatório, mudando a posição de acordo com o capricho de um instante, ao sinal premonitório de uma reviravolta da minha mãe.
Nesse tempo, ouvi muitas vezes os meus pais. Vendiam esperança. Pode não ser tudo como eu quero, ou eles querem, mas está tudo bem.
Agora que nasci, pela primeira vez, tenho consciência da felicidade: é um momento que jamais esquecerei.
Sou pequenina e sem idade, mas vou crescer. E vou-me fazer! Prometo! Vão ver!
Se conseguir, pouco a pouco, desprender-me-ei da terra, elevando-me a uma dimensão que ninguém pode alcançar.
Há pouco, a minha mãe não estava lá com muito boa cara. Estive para lhe dizer: «o mais certo é isto ser uma ingestão, não é verdade que agora está muito melhor?», mas ainda não sei falar. Falha-me a língua, ou então é da falta dos dentes. Lá, no mundo das fadas, era tudo muito mais fácil. E estava sozinha. Eu compreendia-me sempre! E mexia-me à vontade. Bem, nos primeiros tempos; depois era mais difícil!

Olá Mariana!
Todos têm uma estrela da sorte. Tu és a nossa!
Os frutos nascem no fim da Primavera.
Os frutos do amor nem sempre.
Tu nasceste no Inverno. Estamos cá para te aquecer!
Olá. Mariana!
Para ti, talvez o dia de hoje não seja a simples continuação do dia de ontem. Pensa, tens todo o tempo do mundo à tua frente. Todo o mundo à tua espera.
Nunca te esqueças de uma coisa: a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo!
CC
abcd2003@tiscali.fr

Maldita Ansiedade 

Por vezes falo demais.
Maldita ansiedade.
Mas, como calar-me com palavras?
Não consigo. Gosto de vomitar tudo o que penso.
Sabe bem. Alivia o estômago e a cabeça.
Não fujo das marés-baixas. Apanho todas as ondas do mundo. E desafio os que me dizem louco.
Farei como quero. Nasci para teimar.
Continuo a acreditar na magia dos meus sonhos.
Porque nesse mundo nada pode entrar e destruir tudo.
Pior é quando se acorda de um sonho que foi longe demais.
Na minha alma há um canto meu, infernalmente recordado, dorido de uma noite que chegou sem avisar.
Eis, aqui estou eu! Sem mãe nem casa.
Estou confuso! Gostava de saber o que vai dentro de mim. Mas não
sei!
Não fosse este vício social, de termos de nascer e constituir família, e eu seria um vadio.
Sem horas, nem tempo.
Quem me dera poder fazer apenas o que desse na real gana.
Correr mundo. Sentir os cinco sentidos e escrever.
Passear, dormir, correr.
Ser vadio. Livre!
Livre das horas, do emprego e do dinheiro.
O quotidiano é chato. Sempre a correr. Tudo à pressa.
A rotina dá vontade de matar.
À falta de coragem ou de tempo, acabamos por matar o que está mais à mão. Por exemplo, o amor!
Às vezes sinto-me tão mal, que chego a arrepender-me de ter nascido.
A vontade de chorar, por tudo e por nada, apodera-se de mim.
Fico parado. Estupidamente a ver passar o tempo.
Tudo isto parece um longo sonho. Eterno.
Talvez um dia tenha resposta para esta sensação.
De manhã tenho de me levantar cedo.
De noite, dormir é, quase, impossível.
Que merda. Tempo. Horas. Porquê? Para quê?
Com certeza, um pequeno equívoco sem importância.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Coisas estúpidas, apoiadas por certa esquerda 

«Fazer amor é uma doença mental onde se gasta tempo e energia»
Cadernos do PC Chinês, 1971

Algo de novo 

Penso ter algo de novo para dizer. Mas até lá ainda tenho um longo caminho a percorrer. Sabes como é difí­cil decidir estas coisas. Quando se tem algo a dizer. Pode não ser o momento, a hora certa. Pode cair mal naquela altura. Estou ansioso, mas vou aguentar. Tenho algo para dizer. Mas não o divulgo já. Tudo tem uma hora certa. Depois digo. Mais tarde. Daqui a uns dias; uns meses; uns anos. Na altura apropriada. Mas fica sabendo, que esta cabeça não pára. E é verdade. Tenho algo de novo a dizer.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Preguiça 

- Vai por esse lado?
- Sim.
- Não devia.
- Porquê? Passa-se alguma coisa nesta rua?
- É um beco sem saída.
- Mas sempre posso voltar para trás.
- Não. Não tem retorno.
- Como assim?
- Nos últimos anos, quem por aí tem entrado nunca mais saiu.
- O que lá haverá? Prazer?
- Não sei. Só que não tem retorno.
- E a curiosidade?
- Que é que tem?
- Nunca a teve?
- De quê?
- De saber o que há neste beco sem saída e sem retorno!
- Já. Sinto-a muitas vezes. Por isso passo os dias e as noites aqui à frente. Aqui durmo e aqui como. Aqui vivo na esperança que alguém saia e me conte como é!
- Tem medo?
- É mais preguiça.
- Como assim?
- Sim. Para quem passa os dias aqui em frente, sem outra coisa que fazer, não perdia nada em espreitar, em avançar, em descobrir o que tem esse beco.
- Então porque não o faz?
- Já lhe disse. Por preguiça.
- Eu vou entrar.
- Mas venha. Venha depressa para me contar, que eu estou extremamente curioso.
- Depressa? Não posso. Também tenho preguiça.
- E a sua preguiça é maior que a sua curiosidade?
- Não. Mas é mais pesada.
Passados 10 anos voltou o homem que não tinha conseguido suster a curiosidade daquele beco sem retorno.
- Homem, continua aí?
- Sim, aqui o esperei.
- Já tenho uma explicação. Aquilo é um verdadeiro paraíso de onde ninguém quer sair. Só cá vim para lhe matar a curiosidade.
- Obrigado. Mas já estou tão velho que até tenho preguiça de ouvir. Vá. Vá. Eu aqui ficarei e se a preguiça não mo evitar recomendarei a entrada a todos os forasteiros nesse beco sem retorno.
CC
abcd2003@tiscali.fr

Curioso 

Sou um amante da natureza. Todo o tipo de vida, de espécie, me interessa.
E você parece-me ser de uma espécie bem interessante. Diga-me, esses seios, são herança da mãe ou da avó??!
CC
abcd2003@tiscali.fr

Je sais que tu es là 

Je sais que tu es là

Quand le soleil sourit
A travers les nuages
Ou que la lune rit
Lorsqu’il part en voyage
Je sais que tu es là ;

Quand les feuilles murmurent
Caressées par le vent
Jouant les manucures
Sur leurs reflets changeants
Je sais que tu es là ;

Quand le ruisseau gambade
A travers bois et champs
En fredonnant l’aubade
Aux oiseaux insouciants
Je sais que tu es là ;

Quand les sous-bois parfument
Les sentiers qui serpentent
Et que les s’allument
Sous le soleil couchant
Je sais que tu es là ;

Le soleil me sourit
Les feuilles me murmurent
Mais c’est toi qui souris
Et c’est toi qui murmures ;

Le ruisseau m’éclabousse
Et les sous-bois parfument
Moi je vois ta frimousse
Et mon regard s’embrume

Lorsque je pense à toi.

amitiés à tous
Bruno

«Fábulas de Ackoff» - Russell L. Ackoff 

Para os, ditos, homens de esquerda aprenderem, e apreenderem, alguma coisa..... Se for possível, claro.

«A única coisa que nos salva da burocracia é a ineficácia»

«O tipo de sistema social redutor em termos de variedade é o que designamos por uma burocracia. Uma burocracia é uma organização cujo objectivo principal é manter as pessoas ocupadas a fazer coisa nenhuma. Pessoas preocupadas com o que chamamos “fazer trabalho”.

«As burocracias entravam o desenvolvimento. Retardam a melhoria da qualidade de vida. É por isso que muitos dos esforços dirigidos contra os sistemas passam pela não observância da burocracia, procurando não fazer o que esta exige desnecessariamente, ou fazendo uma coisa que precisa claramente de ser feita mas que ela se furta de fazer!»

«Numa burocracia, só uma coisa é mais importante que conformidade: as receitas»

«Porque tendem as ser ineficazes e obstruem o desenvolvimento, as burocracias convidam e encorajam a corrupção. Impõe-se o suborno para as fazer funcionar com menos eficácia e obstrução. As burocracias criam obstruções com o propósito de sacar subornos»

«Se este não fosse obstruído, como o é nos países mais desenvolvidos, não haveria corrupção porque a necessidade dela seria nula. Eliminar as obstruções ao desenvolvimento de uma sociedade não só fomenta o desenvolvimento como ainda diminui a corrupção»

«Não são coisas equivalentes: livrarmo-nos daquilo que não queremos não nos garante que alcancemos aquilo que queremos»

«Sem opções não há erros; sem erros não há loções, e sem lições não há desenvolvimento»

«Crescimento é um aumento em tamanho ou em número. Desenvolvimento não é tão fácil de definir!»

«Desenvolver-se é a pessoa ampliar o seu desejo e a sua capacidade de satisfazer as suas necessidades e desejos legítimos, bem como os outros.
Uma necessidade ou um desejo são legítimos quando, uma vez satisfeitos, não privam os outros da oportunidade de satisfazer as suas necessidades e desejos legítimos. Uma necessidade é tudo o que for indispensável à saúde ou à sobrevivência»

«Desenvolvimento é uma questão de saberes, não de haveres, e o saber é uma questão de educação. Daí que a educação seja o processo através do qual o desenvolvimento tem lugar. Uma vez que a aprendizagem é a essência do desenvolvimento, e que uma pessoa não pode aprender por outra, ninguém pode desenvolver os outros»

«Desenvolvimento é uma questão de saberes, não de haveres, e o saber é uma questão de educação. Daí que a educação seja o processo através do qual o desenvolvimento tem lugar.
Uma vez que a aprendizagem é a essência do desenvolvimento, e que uma pessoa não pode aprender por outra, ninguém pode desenvolver os outros.
Há um único tipo de desenvolvimento: o auto-desenvolvimento. Em todo o caso, qualquer pessoa ou instituição pode encorajar e facilitar o desenvolvimento de outrem. É justamente o encorajamento e a facilitação do desenvolvimento pessoal o que constitui a função mais importante da educação.
Ainda que a educação requeira a aprendizagem, a aprendizagem não requer ensino.
Por exemplo: muitos de nós aprendemos a nossa primeira língua sem que esta nos tenha sido ensinada. Aprendemo-la através da experiência. Poucas pessoas a quem foi ensinada uma segunda língua aprenderam esta tão facilmente como a primeira. Grande parte daquilo que nos é necessário saber no trabalho e na diversão, aprendemos no trabalho e na diversão, não na escola com um professor. Daí que não seja novidade nenhuma o aforismo: a experiência é o melhor mestre.
Concluindo, ainda que aprender seja necessário ao desenvolvimento, ser ensinado não o é. Assim, se explica que muita gente, que tem relativamente pouca instrução, seja, no entanto, espantosamente desenvolvida.»

«O que não é tão óbvio é que a educação não é necessariamente uma questão de escolaridade. Pode obter-se educação sem ir à escola. E pode ir-se à escola sem obter educação. Não obstante, pressupõe-se que as escolas sirvam para educar e, até certo nível ainda o fazem, mas esse nível tem vindo a decrescer nas últimas décadas. Como resultado, as escolas são severamente criticadas por variados procedimentos educadores. Eis uma amostra dessas críticas:
Não é possível passar algumas longas horas a visitar salas de aula de escolas públicas sem se ficar estarrecido com a mutilação visível. Por todo o lado – mutilação da espontaneidade, da alegria de aprender, do prazer de criar, do sentimento de si mesmo... Como os adultos se fiam tão naturalmente nas escolas, não conseguem avaliar os lugares sombrios, tristonhos que as escolas americanas são na sua maioria, quão opressivas e mesquinhas as regras por que se regem, quão intelectualmente estéril e esteticamente árida é a atmosfera, que falta deprimente de civilidade esta obtém da parte de professores e directores, que desdém estes ostentam inconscientemente pelas crianças!»

«O aluno é “escolarizado” para confundir ensino com aprendizagem, passagem de ano com educação, um diploma com competência, e fluência com a capacidade de dizer uma coisa nova. A sua imaginação é “escolarizada” para aceitar utilidade em lugar de valor...
Reforma gradual e concessões à pressão estudantil, admite-o a maioria dos peritos educacionais, será o suficiente. O que é necessário é um ataque frontal à estrutura escolar existente que substitua os métodos antiquados de ensino, as relações professor-aluno impessoais ou autoritárias, e os códigos de comportamento obsoletos por novas formas e ideias em sintonia com os tempos»

«Administradores e planeadores educacionais são incapazes de abandonar velhos modelos e conceitos. Pior ainda, tendem de uma forma geral a sentir-se satisfeitos com as características fundamentais do sistema existente e restringem as suas mudanças a aspectos não essenciais desse sistema».

«A qualidade da educação é, na sua opinião, directamente proporcional ao momento gasto em educação por estudante e por ano e ao número de meses durante os quais esse montante é dispendido. Deste modo, a qualidade da educação seria directamente proporcional à quantidade de recursos por esta consumida. Trata-se de uma terrível distorção do significado da qualidade. Não há nenhuma ligação taxativa entre qualidade da educação e a quantidade de recursos que esta consome. Além disso, a contínua invocação a mais recursos ignora completamente considerações de produtividade!»

«A maioria dos alunos e dos pais não têm uma oportunidade de escolha em termos de escola; são designados para uma que é subconvencionada, e cuja subvenção é relativamente independente da dos serviços que presta.
Em consequência, muitas das escolas públicas são monopólios dentro das áreas de responsabilidade que lhes são atribuídas. (e as escolas privadas não constituem uma opção para muitos estudantes por motivos de ordem financeira, religiosa ou geográfica).
Acresce que, na medida em que a sobrevivência das escolas depende mais da satisfação dos seus subconvencionadores do que da satisfação dos seus utentes, todas elas tendem para a burocracia. As burocracias, por sua vez, tendem a crescer indefinidamente porque acreditam que, quanto maiores forem, menos sujeitas estão a ser dispensadas.
Crescem em geral criando o chamado “make-work” (fazer trabalho) – trabalho que mantém as pessoas ocupadas a fazer coisa nenhuma, sem nenhum produto útil.
O “make work”, contudo, não deixa, em muitos casos, trabalhar eficazmente quem tem um trabalho a sério para fazer.
A desmonopolização e a desburocratização das escolas públicas são realizáveis, se se facultar aos estudantes e/ou aos pais a escolha das escolas, e se se fizer com que as receitas destas dependam do número de estudantes que servem.
O sistema dos vales, formulado pela primeira vez por Jenks (em 1970 – depois de Adriano Moreira), oferece estas condições, o que se segue é a minha própria versão do seu tema.
Aos pais de cada criança em idade escolar seria dado um vale de educação no valor de uma quantia específica de dinheiro pagável pelo Governo à escola que o recebe. Esse vale cobriria ensino e transporte (se necessário) em qualquer escola pública, ou parte ou a totalidade de ensino numa escola privada. A escolha da escola competiria aos estudantes e/ou aos pais.»

«As escolas públicas não teriam outras fontes de rendimentos a não ser os obtidos com o reembolso dos vales recebidos dos alunos que admitissem. Se os custos de uma escola excedem as suas receitas, o melhor é abandonarem o negócio.
As escolas privadas seriam autorizadas a aceitar e a receber o reembolso dos vales só nos casos em que seleccionassem mesmo novos candidatos. Estariam habilitados a cobrar o que entendessem, mas os pais ou os tutores teriam de cobrir todos os encargos que excedessem o valor do vale. Estas condições criariam concorrência entre escolas públicas e privadas, bem como entre as próprias escolas públicas.
O sistema de vales estimularia diferenças entre escolas. Teria lugar uma inevitável especialização. Por exemplo: se houvesse um número elevado de crianças atrasadas requerendo ensino especial, as escolas especializariam-se para as servir, em particular se os vales comportassem um valor superior ao do reembolso, como deveria ser o caso.
Além do mais, com este sistema eliminariam-se as escolas involuntariamente segregadas, na medida em que estudantes e/ou pais teriam o direito de escolha das escolas, e as probabilidades dos estudantes serem seleccionados para a escola da sua candidatura seriam independentes da sua raça ou de outras características pessoais. Isto advém do requisito de os estudantes deverem ser admitidos através de selecção aleatória entre candidatos.
Com a introdução de mecanismos de mercado no sistema educacional – como aconteceria com o sistema de vales – pais, tutores e crianças seriam encorajados a familiarizar-se com as escolas ao seu dispor. Cada comunidade deveria proporcionar uma troca de informações a respeito das escolas, incluindo a avaliação das mesmas por parte das crianças e dos pais, bem como dos educadores.
Num sistema de vales, as escolas disporiam de referências relativamente rápidas acerca da sua performance, retirando portanto mais conclusões do que o fazem actualmente dos seus sucessos e fracassos. Tornavam-se igualmente mais adaptáveis e mais sensíveis às necessidades e aos desejos dos estudantes, dos pais, dos tutores, de quem em geral aposta nelas o seu dinheiro, e das comunidades de que fazem parte. Os administradores escolares esforçar-se-iam mais em envolver os seus investidores em matérias de planeamento e políticas de acção, o que encorajuraria e facilitaria o desenvolvimento pessoal dos participantes, assim como tornaria as escolas mais receptivas aos anseios daqueles que servem!»

«A participação dos seus utentes, e pagadores, na formulação do processo educacional serviria para assegurar a relevância da educação fornecida. Estudantes de áreas rurais, por exemplo, aprendiam provavelmente matérias que os vinculassem de um modo mais produtivo a actividades agrícolas. A sua educação não os obrigaria a ter de emigrar para as cidades para encontrar empregos de acordo com o que aprenderam!»

«O que se exige, portanto, do sistema educacional é o consentimento dessa capacidade de adquirir-mos compreensão por conta própria e o encorajamento do seu emprego.
Talvez seja uma maneira dos professores, também eles, adquirirem alguma compreensão!»

«Resumindo, o sistema educacional devia:
1 – Preservar as diferenças individuais entre estudantes, e encorajar os estudantes no sentido de desenvolverem as suas combinações únicas de competências, não a moldarem-se a produtos de marca normalizados;
2 – Centrar-se na aprendizagem, não no ensino, dando condições aos estudantes para aprenderem a melhor forma de aprender e motivando-os para uma aprendizagem contínua;
3 – Sintetizar o que os estudantes aprendem de modo a produzir compreensão, se não mesmo sapiência (não se limitando a transmitir informação e conhecimento), e dar relevo às inter-relações entre matérias e disciplinas, particularmente entre ciência, tecnologia, artes e humanidade;
4 – Habilitar os estudantes para lidarem com sistemas como um todo em vez de reduzi-los, através da análise, a partes de tratamento mais fácil;
5 – Encorajar a constante reformulação das instituições e processos educacionais de modo a que possam ser desburocratizados, desmonopolizados e adaptados a condições e estudantes variáveis, permitindo a participação de alunos, pais e quantas aí invistam o seu dinheiro nessa reformulação e sua implementação»

«Esse modelo está reflectido num antigo provérbio iraniano que diz mais ou menos isto: dás hoje um peixe a um homem faminto e ele terá fome amanhã»

«Na minha opinião, a liberdade de decidir, de fazer escolhas, é a mais importante liberdade que uma pessoa de qualquer idade ou época deve possuir. No entanto, essa liberdade será oca sem alternativas de escolha. Consequentemente, privar as futuras gerações de opções futuras é uma questão de ética e de desenvolvimento.»

«O filósofo de sistemas C. West Churchman escrevia recentemente: “ Moralidade é uma conversa interminável dos vivos com os seus ancestrais sobre como conceber um mundo bom para as gerações futuras. E a conversa precisa de ser inteligente... Se insistirmos num sim ou num não, a conversa acaba. Mas não devia acabar. Isto quer dizer que um sim ou um não definitivos nunca ocorrem: a moralidade nem é absoluta nem relativa”»

«Não há maneira de resolver conflitos entre as pessoas que concordam em discordar e, sobretudo, quando valorizam esse desacordo»

«Quando já nada pode piorar as coisas, fazer qualquer coisa melhora-as.»

«O que os outros pensam de nós é mais uma questão da nossa mente do que da deles».

«O mesmo não se aplica à maioria dos gerentes: o seu mecanismo mental é mais idêntico ao de um criado do que ao de um profissional.
As escolas de gestão não preparam os futuros gestores para se comportarem como profissionais, apenas para reclamarem profissionalismo.
Os profissionais têm a obrigação de possuir ideias quanto às condições mínimas sob as quais estão dispostos a exercer os seus cargos. Quando tais condições não são preenchidas, devem recusar-se a exercer e demitir-se, se necessário. A ameaça da retirada é a protecção mais forte de que um profissional dispõe para o seu profissionalismo»

«Os erros são facilmente emendados entre amigos, e as exactidões facilmente defraudadas entre inimigos»

«Quando uma criança fizer uma coisa má, explicou ela, nunca lhe digam que ela é má; digam à criança que o que ela fez é mau. Não confundam uma criança com aquilo que ela faz. Nunca insinuem nem dêem a entender que estão a retirar o vosso amor por essa criança em virtude de desaprovarem o que ela fez.»

«Preocupação, não acordo, é a chave para abrir corações.»

«A amizade baseia-se na preocupação, e a preocupação assenta profundamente no respeito. O respeito é algo que não pode ser exigido nem forçado; pode unicamente ser concedido»

«O tempo é o nosso recurso mais valioso, o único que não é de todo em todo renovável. Ninguém, nem mesmo nós, tem o direito de o desperdiçar.»

«O sistema de castas é uma forma de autorizar que uns, por causa de um acidente de nascimento, tomem os privilégios como uma coisa natural, e façam passar um mau bocado aos que devem, por causa de um acidente de nascimento, acatá-lo.»

«É capaz de haver mais irracionalidade na mente do observador do que há na mente do observado.»

«A arte de dar está muito menos desenvolvida que a arte de receber, mas está mais desenvolvida entre os menos desenvolvidos do que entre os mais desenvolvidos.»

Fernando Braga de Matos - «Máximas de Bolsa» 

«Não arrisque! Meta todas as suas poupanças em acções sólidas, espere que elas subam e venda-as. Se não subirem, não as compre!»

«Outubro é um mês péssimo para especular. Os outros são Novembro, dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto e Setembro»

«Se você investir como um institucional, está condenado a ter resultados equivalentes, isto é, nada de especial»

«O mercado tem sempre razão»

«A acção nem sequer o conhece»

«As acções dão dinheiro, a prazo, e com calma»

«Não arranje desculpas para os erros: corrija-os»

«Frequentemente, as pessoas são persuadidas por uma mensagem, não pela sua força lógica, mas por considerarem o comunicador um perito»

«Os planos são importantes, mas o mais importante é a capacidade de reagir de imediato a factos novos»

«Comprar com as más notícias e vender com as boas»

«O que é óbvio para o mercado é obviamente errado»

«Se você não se conhece, a Bolsa é um lugar demasiado dispendioso para o fazer»

«A ganância é uma coisa boa»

«Quando o mercado está em crise e o pessimismo reina, é altura de comprar, não de vender»

«Quando perder, culpe-se a si próprio, emende-se e volte a investir»

«Há que comprar no momento em que a esperança deixou de existir»

Lar de Terceira Idade 

Morreu antes de morrer! Parou no tempo! Entrou num buraco negro, mas não avançou, nem se atrasou, no tempo. Simplesmente estagnou a vida num tempo, que já não era tempo e que já não lhe interessava, nem lhe fazia falta ou sentido. Simplesmente passava os dias. À espera.... Do dia... Da morte!
É assim um lar de idosos: uma antecâmara da morte. O sítio onde se espera que os homens da agência funerária nos venham buscar, cheios de flores, de simpatia, cuidados e ambição pela nota alta que os familiares vão pagar. É triste!

CC
abcd2003@tiscali.fr

Paciência 

Admiro tanto a capacidade que algumas pessoas têm de só dizerem aquilo que entendem, no preciso momento em que sentem que devem fazê-lo. São capazes de ouvir as maiores provocações sem franzir uma sobrancelha, deixando que o interlocutor morra do seu próprio veneno, estrangulando em contradições e num discurso incoerente, provocado pela raiva de sentir que o outro não o acha merecedor de uma resposta. E isto sem ter dito uma palavra...
Não precisam de ganhar discussões, como quem acumula troféus de caça, nem têm medo que o seu silêncio ou poucas palavras seja interpretado como ignorância.
CC
abcd2003@tiscali.fr

O Lobo das Estepes 

«(...) Imaginemos um jardim, com centenas de árvores das mais variadas, milhares de flores das mais variadas, centenas de frutos, de ervas mais variadas. Se se dá o caso de o jardineiro desse jardim não conhecer outra diferenciação botânica que não seja a de “comestível” e “erva daninha”, então não saberá lidar com nove décimos do jardim; arrancará as flores mais encantadoras, abaterá as árvores mais nobres ou pelo menos há-de odiá-las e olhá-las de través. Assim age o lobo das estepes para com milhares de flores da sua alma (...).
Herman Hesse, «O Lobo das Estepes».

Não beba água: os peixes fodem nela!

Deus abençoe as mulheres bonitas, e as feias, se sobrar tempo.

Toada de Portalegre 

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Morei numa casa velha,
À qual quis como se fora
Feita para eu Morar nela...
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- Quis-lhe bem como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego.
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De montes e de oliveiras
Ao vento suão queimada
( Lá vem o vento suão!,
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão...)
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem fôr,
Na tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela,
Tinha, então,
Por única diversão,
Uma pequena varanda
Diante de uma janela
Toda aberta ao sol que abrasa,
Ao frio que tosse e gela
E ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda
Derredor da minha casa,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos e sobreiros
Era uma bela varanda,
Naquela bela janela!
Serras deitadas nas nuvens,
Vagas e azuis da distância,
Azuis, cinzentas, lilases,
Já roxas quando mais perto,
Campos verdes e Amarelos,
Salpicados de Oliveiras,
E que o frio, ao vir, despia,
Rasava, unia
Num mesmo ar de deserto
Ou de longínquas geleiras,
Céus que lá em cima, estrelados,
Boiando em lua, ou fechados
Nos seus turbilhões de trevas,
Pareciam engolir-me
Quando, fitando-os suspenso
Daquele silêncio imenso,
Sentia o chão a fugir-me,
- Se abriam diante dela
Daquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Na casa em que morei, velha,
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
À qual quis como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego...
Ora agora,
?Que havia o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Que havia o vento suão
De se lembrar de fazer?
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
?Que havia o vento suão
De fazer,
Senão trazer
Àquela
Minha
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
O documento maior
De que Deus
É protector
Dos seus
Que mais faz sofrer?
Lá num craveiro, que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!,
Eis que uma folha miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
Á qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
?Como é que o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola,
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere ... e consola
Com o próprio mal que faz?
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for
Me davam então tal vida
Em Portalegre; cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Me davam então tal vida
- Não vivida!, sim morrida
No tédio e no desespero,
No espanto e na solidão,
Que a corda dos derradeiros
Desejos dos desgraçados
Por noites do tal suão
Já varias vezes tentara
Meus dedos verdes suados...
Senão quando o amor de Deus
Ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Confia uma sementinha
Perdida entre terra e céus,
E o vento a trás à varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tôsca e bela
À qual quis como se fôra
Feita para eu morar nela!
Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acàciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu; dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério,
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus,
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...
Quem desespera dos homens,
Se a alma lhe não secou,
A tudo transfere a esperança
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar nos animais,
De humanizar coisas brutas,
E ter criancices tais,
Tais e tantas!,
Que será bom ter pudor
De as contar seja a quem for!
O amor, a amizade, e quantos
Mais sonhos de oiro eu sonhara,
Bens deste mundo!, que o mundo
Me levara,
De tal maneira me tinham,
Ao fugir-me,
Deixando só, nulo, vácuos,
A mim que tanto esperava
Ser fiel,
E forte,
E firme,
Que não era mais que morte
A vida que então vivia,
Auto-cadáver...
E era então que sucedia
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Aos pés lá da casa velha
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casa que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.
Vento suão!, obrigado...
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado
Sem eu sonhar, me chegara!
E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera.

José Régio

Retalhos da vida de um homem 

Pouco passa da meia-noite, é certo, mas passam já alguns minutos. Passámos por isso de dia; em termos de calendário, claro.
Cheguei a casa por volta das onze horas e quinze minutos da noite, depois de ter subido toda a serra que vai da estação de comboios até à minha casa. As camionetas por aqui acabam cedo. Fiz o percurso por etapas; facilita-me, pois torna-me a subida um pouco menos penosa, menos cansativa.
Cheguei a casa a escorrer água, não por causa da chuva que tem caído nas últimas horas, mas devido ao suor a que o cansaço me obrigou. Cheguei exausto.
Atirei a pasta de trabalho para um canto da sala – deveria tê-la atirado antes para um canto do escritório -, e , acto contínuo, dirigi-me à cozinha, onde tinha já os meus filetes temperados. Acendi o fogão, onde refoguei um bom pedaço de alho, sal e pimenta e de seguida fiz um molho de mostarda e açafrão bem embebido em natas. Só depois lhe misturei os filetes, aos quais lhe dei uma ligeira fritura. Não que adore peixe cru, mas acho que o peixe congelado já vem meio confeccionado. Após o molho estar pronto, os filetes ficaram prontos a comer em seis ou sete minutos. Agarrei num pedaço de pão, enfiei-o na frigideira, assoprei-o – não fosse queimar os beiços -, e provei-o. Óptimo. Estava óptimo.
Mas, no entanto, o cansaço foi mais forte do que eu, e do que a fome (que estaria escondida algures, num canto secreto do meu estômago, ou bloqueado no cérebro).
O puré de batata que previ fazer, bem salpicado de noz moscada, ficou por fazer. Desliguei o fogão e as luzes da cozinha, depois de ter tapado a frigideira – não vá, sabe-se lá porquê, algum bicho esquisito querer comer aquilo que eu vou comer um pouco mais tarde.
Dei alguns passos, espreitei o escritório, o resto dos quartos e as suas respectivas casas de banho, como que para me certificar de que estava realmente sozinho em casa. E o que rapidamente tinha previsto consumou-se. Sozinho. Sem intrusos, nem ladrões; safa!
Foi na sala que me instalei, até que a fome me chamasse, novamente, a atenção. Por ali fiquei um bom bocado a ouvir um pouco de soft jazz, misturado com free jazz, enquanto fumava um ou outro cigarro, um atrás do outro, por intervalos de tempo mais ou menos curtos, ou mais ou menos longos, ao mesmo tempo que ia bebendo o vinho branco que tinha destinado para o meu quase-sushi.
Houve alturas em que pensei: «Vou adormecer aqui, a ouvir esta música até a deixar de ouvir. Até passar para o mundo dos sonhos, ou do sono profundo». Mas resisti. Fiquei bem acordado por um bom par de horas, até que a barriga me começou a dar horas; com aquele ratinho a remoer-me o estômago. Foi nessa altura que logo pensei em me levantar apressadamente do sofá onde estava esponjado e dirigir-me apressadamente para a cozinha, destapar a frigideira, voltar a acender o fogão para que o meu molho de açafrão e mostarda voltasse a ficar líquido, em vez daquela consistência viscosa. Foi nesta mesma altura que a música parou e a sala, e toda a casa, ficou em silêncio. Silêncio, uma maneira de dizer, ou de tentar – omitindo -, explicar o que ouvia.
Antes de me levantar do sofá, onde há um bom par de horas estava estendido, no meio daquele silêncio quase rural – vivo longe das grandes estradas -, ouvi o som da chuva. Fiquei um bom bocado no meio do silêncio da casa a ouvir o cair da chuva (que tanto adoro ouvir, desde que esteja bem abrigado; e na altura estava).
Decidi que o meu quase-sushi poderia esperar mais um pouco, pois os prazeres da vida não podem ser gozados todos de uma só vez – acho eu, pelo menos é o que o correr, contínuo, da vida me tem ensinado, ou obrigado.
Fiquei uma dezena de minutos a ouvir a chuva a cair. Sossegado. Sim, sossegado, até ao segundo em que fui sobressaltado por um enorme trovão. «Uma trovoada, em começo de Primavera», pensei, achando esquisito. E ao mesmo tempo voltei a pensar: «Um trovoada, em plena Primavera, com relâmpagos e tudo, não acontece todos os dias». É uma dádiva de Deus, ou da natureza, ou dos dois, ou só do primeiro que criou a natureza, mas não acontece todos os dias; pelo menos com este esplendor, de relâmpagos consecutivos, que parecem querer que a noite se faça já dia.
Foi então que me ocorreu correr para a janela e apreciar cinco prazeres da vida ao mesmo tempo: o silêncio da casa, o cair da chuva, o troar dos trovões, a luz dos relâmpagos e o meu quase-sushi.
Foi coincidência, sorte, o destino, pensei. Deve ter sido sorte, voltei a pensar.
E logo me veio ao pensamento: «se for sorte, no sábado ganho o totoloto». Se não for, vou continuar pobre, maldito destino, desconhecido mas marcado.
CC
abcd2003@tiscali.fr

O casamento é o fim das criancices e o começo das criançadas.
Pénis D'Almeida
abcd2003@tiscali.fr

O tempo que passa 

Aqui estou eu sentado, a pensar no tempo que passa. Sem alegria, nem glória. À espera que o Sol nasça. Sentado, à beira de um rio que corre sempre no mesmo sentido, sem retorno. Sem maré-alta. Sempre baixa.
Apago fogos no meu Inferno privado. Toco nas paredes da minha memória. Recordo tudo. Todo o meu passado, neste tempo que passa. Olho-me, a mim próprio, de alto a baixo, e observo todos os meus movimentos. Tento esquecer o que nunca chegou a acontecer. Talvez seja eu, talvez sejas tu, talvez seja apenas o tempo que passa.
Espero pelo Sol. Até amanhã, parece-me uma eternidade. Contemplo, paciente e demoradamente, o que a vista me alcança, enquanto oiço o que o silêncio teima em me dizer. Penso na minha angústia, que não é mais do que apenas uma variação da mesma história de sempre. Admiro-me com tanta energia gasta, em algo que se repete de forma tão pouco agradável.
E fico sentado, à beira-rio, a pensar no tempo que passa.
Fugi, para não ouvir os gritos. Mas os gritos vão atrás de mim, como se a própria terra gritasse. Uma noite difícil de suportar. Mesmo para um homem como eu que já suportara tantas noites como esta. Sozinho, a olhar para o rio e a falar com as árvores.
Não me emociono. Não me divirto. Não aprendo. Não me excito. Não me ponho em causa. Não me escandalizo. Não conheço novas pessoas, nem faço por as imaginar. Aguardo sempre pelo melhor momento para estragar tudo.
Não tirei bilhete para a vida. Não há vontade e ocasião que eu não perca.

CC
abcd2003@tiscali.fr

Ambiguidades 

Já agora, porque não? Escrever? Sim, sempre. Sempre que possa, escrever algo. Porque não?! Mas, escrever o quê? Sobre quê? Sobre quem? Quando e porquê? Falta-me. Falta-me o tema, a coisa, o quê. O porquê. Porque o quando, é sempre.
Mas escrever quando, não é sempre. Às vezes, talvez. Hoje, parece-me que não. Não. Não o quê? Escrever o quê, sobre o quê, sobre quando? Sobre nada, que não me resta nada. Nada, nesta mente cansada de cansaço, a precisar de descansar.
Nada, desta inspiração que não inspira. Ou tudo. Tudo do que me lembre. Tudo por que passei, tudo. Mas esse tudo é demais. É demasiado tudo, demasiado doloroso.
Demasiado para se escrever. Pelo menos hoje, pelo menos agora, que estou cansado. Cansado e dorido, sofrido. Talvez amanhã. Talvez. Pode ser e não ser. Porque não?
Estava aqui a pensar, sem pensar em nada. A pensar em quê? Logo eu. A pensar. Em quê, sobre quê? Quando? O quê? A pensar. Olha, que coisa, logo eu, a pensar.
Eu? Quando? O quê? Como? O quê? Onde? A pensar? Eu? Pressuposto. Presunção? A pensar? Agora já penso, eu? Eu? Olha! A pensar. Logo eu. Logo hoje. Logo agora! A pensar. Dou-me a esse luxo? Ainda me posso dar? Logo eu, vejam só, a pensar. Eu. A minha simples pessoa. Para que raio vou eu pensar? Para quê? Divagar, talvez.
Devagar, calma, não penses tanto. Não faz falta, nem a ti, nem aos outros. O essencial é não pensar. Calar. Cala-te! Sossega. Está sossegado!
A pensar. Falar. Falar de quê? Sobre quê? De quem? Cala-te! Sossega.
Dorme. Deixa os teus pensamentos adormecidos, adormece, é tarde. Não são horas de se dizer o que se sente, o que se pensa. Agora não. Olha só, tu a pensares, agora, a esta hora, logo agora. Descansa. Cala-te. Dorme. Adormece esses pensamentos, acalma-te.
Mas penso. Em quê? Porquê? Quando agora? Sim, talvez. Pode ser e pode não ser. Penso.
Assusto-me. Não foi nada. Estou sozinho, claro. Sozinho. É fácil de dizer. Tem de ser fácil. Mas poderá ter-se a certeza?
Não foi nada. Foi. Batem-me à porta. Agora, quem? Sem perguntar a mim mesmo. Sem pensar. Julgamos estar apenas a descansar, para depois agirmos melhor, ou sem ideias feitas, mas passado pouco tempo vemo-nos impossibilitados de fazer seja o que for.
Voltam a bater. Levanto-me e assomo-me à porta.
É a Sofia. Que raio!
- Como descobriste a minha nova morada? -, perguntei-lhe.
- Disse-me a tua mãe onde te encontrar -, respondeu-me ela, com um sorriso.
- E? Que queres?
- Agora que resolvi os teus assuntos, talvez queiras resolver tu os meus. Só quero devolver-te o poder que tinhas sobre mim. Por isso te procurei até te achar.
- Não tenho respostas para te dar. Nada para te dizer. Mesmo que não deixe passar um dia sem que me pergunte o que foi que nos aconteceu, não me importa mais tudo o que digas; de qualquer modo, na realidade, nunca o conseguirei compreender.
- Não paras de chorar pelos cantos desde a nossa separação. Segundo a tua mãe, se não sais para te embebedar, ficas os dias inteiros fechado em casa a escrever.
- Enganaram-te, claro. Mas isso é toda uma outra história.
- Sim?!
- É muito mais fácil mentir com as palavras do que com as imagens. E tu? Continuas a pintar?
- Isso é uma provocação? É para me castigares do meu silêncio dos últimos meses?
- Não, por amor de Deus. O teu silêncio até me tem sido útil. Estou bem assim. Penso e escrevo. Reencontro-me. E se me embebedo nos tempos livres... É um modo de preencher o tempo livre. Não posso estar sempre metido em casa. Por outro lado, ajuda-me a derrubar determinados obstáculos para que continue a escrever.
- Continuas na mesma. Lembras-te? Todos os dias me contavas uma mentira diferente...
- Hoje não te estou a mentir. Estou bem como estou. E quero continuar sozinho. Preciso de tempo. Escrever? Sim, sempre. Sempre que possa, escrever algo. Porque não?! Até tenho tema! Sobre quê? Sobre tudo! Tudo do que me lembre. Tudo por que passei, tudo. O demasiado para se escrever. Deixa-me. Sai pela mesma porta por onde entraste. Estou bem assim, sozinho. Nunca pensei que pudesse levar tanto tempo a chegar a outro sítio. Agora que aqui cheguei, é aqui que quero ficar. Sozinho.
- Tens alguém? – Perguntou ela. Depois pediu um copo de água e sentou-se.
- Talvez. Alguém com o agradável sabor da novidade, que vai contra as ideias feitas. É muito mais divertido estar com alguém que dê corda aos nossos neurónios -, aproveitei eu para uns toques de provocação.
- Faz como quiseres. Quero lá saber – disse ela, em tom de derrota. Se queres vir comigo vem, senão fica de vez -, mas nem esperou por uma resposta. Voltou-se e bateu com a porta.
Saiu. Com passos ligeiros e metódicos. O bater da porta fez-me pensar. Nada. Eu não sou nada, sem amor. Mas tenho sido mais. Os tempos que correm estão cheios de ambiguidades.
Comecei a recordar os nossos primeiros tempos. Mas, as minhas falsas recordações não passam de recordações incompletas. Tentei esquecer. Deixa passar o tempo, pensei. Deixa o tempo suspenso, e espera pelo tempo que se segue. São falsas recordações. Nada mais do que isso. Nada mais.
Passou mais um dia. Amanhã virá outro. Mas que interesse tem isso para mim? Como de costume, nenhum. Pressuponho. Por agora, limito-me a pensar, ou a tentar vaguear pelo vazio. Amanhã sim. Amanhã resolvo os meus amuos comigo. Amanhã, de uma vez por todas, ouço tudo o que tenho para dizer-me.
Algumas coisas nunca mudam.
Oscilo entre o sentido trágico e a euforia, a utopia. Não, não. Nesses momentos sou outra pessoa. Sinto-me num outro estado de consciência. O que é certo é que embarquei num estado de certa embriaguez, ou de loucura, o que não quer dizer que não haja um controle posterior. Que a maturidade e a experiência também forjam.
Liguei o rádio. Desligo-o. O imediato da emoção deixa-me represo, ao ponto de haver músicas que não consigo ouvir. Vêem-me as lágrimas aos olhos, não aguento. Certas melodias servem de chave psicológica. Esqueço as palavras mas não a música.
Pego num livro. Vou ler. Quanto mais leio mais pessoas conheço. Fecho o livro. Não me apetece nada, que não me resta nada. Nada, nesta mente cansada de cansaço, a precisar de descansar.
Volto a pensar nela. Deixou-me na memória da sombra, num tom escuro que perpassa por todo o meu corpo. Só existo eu, eu que não sou, aqui onde estou. Não é altura de falar nisso. Bom. É altura de falar de quê? De mim, finalmente. Mas prossigamos com ordem. Vou fazer o possível, como sempre, já que não posso fazer outra coisa.
Volto atrás, tenho de voltar atrás, não saí daqui, passei o tempo a contar histórias a mim mesmo, quase sem as ouvir, ouvindo outra coisa, à espera de outra coisa. Nunca pensei que pudesse levar tanto tempo a chegar a outro sítio. Agora que aqui cheguei, sei que nunca saí daqui.
Olho para janela. Ainda há luz lá fora. Abri a porta e saí para a rua. Apanhar um pouco de sol, como que se a fugir da sombra para a luz entrar na minha mente.

CC
abcd2003@tiscali.fr

Assim me sinto, aqui sentado… 

Sinto uma certa vontade de não viver, mas sem vontade de me matar. Tenho medo, de ter medo, e de ser sobressaltado pelo medo que tenho de ter medo. Falta-me, qualquer coisa me falta. Ou não me falta nada. Sinto apenas uma profunda tristeza interior.
Hoje estou assim, parado, calado. Ontem saltava, eufórico – nem me lembro de quê. Há dias e dias. Há coisas intemporais e outras temporais. Hoje estou sem temperamento para a paciência, para o pensamento. Talvez mais tarde, agora não.
Mas tudo pode melhorar, tudo pode mudar. Se começar hoje, terei a certeza que amanhã será melhor. Mas é preciso começar. Mas hoje não. Por amor de Deus, hoje não que me dói o corpo e a alma. Sofro. Como se sofre com uma tempestade: nada podemos fazer.
Tenho medo. Medo e revolta. O medo gera a revolta e a revolta assusta-me. Estou com medos de nada e medos de tudo.
Estou a fugir. Tento-me prender à terra – o corpo, o corpo -, e fujo para longe, para lugares antigos e futuros, que são os meus, longe do circo experimental das aparências.
Aprisionado no meio daquilo que não quero, dissolvo-me numa espécie de ser humano que vive a vida que não imaginou. Assim, só isto. Eu sei. É difícil, impossível, visualizar esta sequência.
De voz baixa, escrevendo com a mão direita, fumando com a esquerda, e com a loucura intratável espelhada nos olhos, pareço um milagre de contenção e de desespero iminente. Assim não há Deus que me valha. Deixem-me um pouco em paz. Se alguém fez mal a deus, não fui eu, nem sequer lá estava. Deus, nunca vi nada igual. Mas sei, percebo, que esse é o teu papel: introduzir coisas inimagináveis na minha vida. E nem assim sinto o perigo real de enlouquecer – quem me dera; que esta vida mais me parece a porta de entrada para o Inferno. Talvez o melhor seja não me preocupar. Talvez seja apenas uma questão de tempo.
Posso fugir disto, daquilo, de tudo, ou posso confrontar a situação, controlá-la. Mas nunca ninguém ouviu dizer que a persistência pode ser uma enorme estupidez?
Ando baralhado. E o pior é que o meu psiquiatra é desconfiado: mais uma semana e interna-me!
CC
abcd2003@tiscali.fr

10 Gin’s de Sonho 

Pouco passava da meia-noite e tudo estava a correr bem. Aquele convite foi das melhores coisas que me ofereceram nos últimos meses. As festas à beira-mar revitalizam-me o corpo e a alma. E, claro, o Gin estava óptimo, tanto quanto as conversas.
- Olá Filipa. Vejo que a sussurrar como estão, tu e a Joana, só podes estar na má língua – disse eu, mais com vontade de meter conversa do que outra coisa; são feias, as duas. Mesmo de noite.
- Não estamos a dizer mal. Estamos só a comentar. Queres saber o quê? - disse logo a Filipa, já de boca aberta para me sussurrar a resposta. Mas não lhe dei tempo.
- Quero! – respondi-lhe antes que ela entrasse nos normais monólogos a que me já habituou (chego mesmo a passar pelas brasas e ela não dá por nada).
- Vês, ali ao canto esquerdo do bar, aquele gajo de calças de ganga e pólo azul? Sim, aquele. Está a dançar.
- Sim Filipa. E daí? Estamos numa festa, é suposto dançar-se.
- Ele dança porque quer seduzir. E quer seduzir porque é um homem.
Olhei-a de frente e pensei, de boca semi-aberta, mas sem proferir palavra: «Feia como és, bem podes dançar para mim, mesmo nua. Não levas nada». E logo lhe disse:
- Pois estás a ver aquela loira, ali do mesmo canto esquerdo, a que está a dançar com o teu suposto sedutor de polo azul?
- Sim, conheço-a. É uma grande amiga minha.
- Pois fica sabendo que passa a vida a fazer broches ao pessoal.
- Não acredito.
- Pois, bem podes acreditar. Aposto que se fosses um homem ela já te tinha feito pelo menos um.
- Mas porquê?
- Faz broches porque não é verdadeiramente desejada pelos homens. É um assunto em que deverias começar a pensar melhor -, disse-lhe, e, acto contínuo, pensei, «Foda-se! Nem assim. A ti não te como. Até de noite és feia».
-És maldoso! Que raio, estamos numa festa!
- Eu sei Filipa. É por isso que o gajo dança para seduzir, e ela lhe fará um broche para se sentir desejada. Estou apenas a comentar.
Tão bem que estava a começar a noite e logo teve de azedar a conversa. Beijei, ao de leve, o pescoço da Filipa (que merda de perfume que ela usa), assim como que em jeito de pedido de desculpa. E fugi - literalmente -, para uma mesa um pouco ao lado, onde estava sentada uma bonita morena - bem as mulheres ficam sempre mais bonitas depois do meu terceiro Gin tónico.
- Olá! Óptima festa, não acha?
- Sim. Adoro festas à beira-mar.
Eu sou daqui, ela dali, andou por aqui e por ali, conhece fulano e sicrano, faz isto e aquilo. Culta, uma morena culta, e bonita - cada vez mais bonita; a beleza de uma mulher é proporcional à quantidade de Gin bebido por um homem. Fartámo-nos de falar. Perdi no entanto grande parte da conversa. Aquele decote. Que raio de decote. Incomodava-me. Como pode uma morena bonita e culta vir para uma festa à beira-mar com um decote tão curto? Comecei a irritar-me. Ao menos que se baixasse um pouco, que deixasse cair qualquer coisa e a apanhasse. Nada.
Estava no quinto Gin e a morena não podia ser mais bonita. Parei de beber e decidi-me a expressar todos os meus sentimentos, de um modo directo, sem rodeios. Na verdade, tudo o que é espontâneo é sincero.
- Estou a adorar a conversa. Mas tenho de lhe fazer uma pergunta.
- Faça querido. Faça as que quiser. Desde que acabe a foder comigo pouco me importa o que está para aí a dizer.
A sinceridade é uma coisa linda.

CC
abcd2003@tiscali.fr

É hoje! 

É hoje. Tem de ser hoje. Mãos à obra. Vai nascer um novo blog, nem que demore 9 meses a aparecer realmente.
CC
abcd2003@tiscali.fr

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Autor: Gustavo Aleixo Weblog Commenting by HaloScan.com
Search this site or the web powered by FreeFind

Site search Web search
Site Meter Tire todas as suas dúvidas sobre blogs. links to this post