jeudi, janvier 29, 2004
Tabaco
Há cada vez mais fundamentalistas. E então no que diz respeito ao tabaco, safa! São aos molhos. Começa mesmo a ser moda não fumar.
Um gajo que seja apanhado de cigarro nas mãos fica mal visto. E se estiver de charuto, então, é corrido à bofetada.
As tabaqueiras não ligam muito ao assunto, pois, por cada um adulto que larga o tabaco, logo aparecem umas dezenas de teenagers inconscientes a largarem baforadas de fumo, ao mesmo tempo que fazem olhinhos à menina que têm à frente e agarram no seu Yorn com câmera digital, e-mail e sons polifónicos (melhor, escaganifobéticos).
Também eu já tentei deixar de fumar. Fartei-me daqueles montes de olhos centrados em mim, como se fosse eu um assassino, ou se me estivesse a preparar para assaltar um banco. Nessa altura dirigi-me à farmácia e comprei um daqueles maços de cigarros de eucalipto. A caminho do meu banco, abri o maço e acendi o primeiro cigarro saudável. Quando estava na fila do caixa, ouvi:
- Ó Neves, não te cheira a queimado?
- É, fios queimados. Deve ter sido outra vez a merda dos fusíveis que rebentaram.
Assim, como quem não quer a coisa e sem querer dar muito nas vistas, deixei cair o cigarro de eucalipto para o chão e pus-lhe o pé em cima.
Nesse mesmo dia, voltei à farmácia. Comprei daqueles emplastros para colar
no braço. Ao fim de duas horas, desisti, enrolei o emplastro e fumei-o. De qualquer modo, um dia vou morrer na mesma, que se lixe.
Agora, sempre que alguém me olha de esguelha, com ar de quem reprova o meu cigarro, não ligo. É-me fácil abstrair-me desses olhares severos; basta-me lembrar o sabor dos cigarros de eucalipto.
Olha, vai um cigarrinho?
Carlos Caldeira
Um gajo que seja apanhado de cigarro nas mãos fica mal visto. E se estiver de charuto, então, é corrido à bofetada.
As tabaqueiras não ligam muito ao assunto, pois, por cada um adulto que larga o tabaco, logo aparecem umas dezenas de teenagers inconscientes a largarem baforadas de fumo, ao mesmo tempo que fazem olhinhos à menina que têm à frente e agarram no seu Yorn com câmera digital, e-mail e sons polifónicos (melhor, escaganifobéticos).
Também eu já tentei deixar de fumar. Fartei-me daqueles montes de olhos centrados em mim, como se fosse eu um assassino, ou se me estivesse a preparar para assaltar um banco. Nessa altura dirigi-me à farmácia e comprei um daqueles maços de cigarros de eucalipto. A caminho do meu banco, abri o maço e acendi o primeiro cigarro saudável. Quando estava na fila do caixa, ouvi:
- Ó Neves, não te cheira a queimado?
- É, fios queimados. Deve ter sido outra vez a merda dos fusíveis que rebentaram.
Assim, como quem não quer a coisa e sem querer dar muito nas vistas, deixei cair o cigarro de eucalipto para o chão e pus-lhe o pé em cima.
Nesse mesmo dia, voltei à farmácia. Comprei daqueles emplastros para colar
no braço. Ao fim de duas horas, desisti, enrolei o emplastro e fumei-o. De qualquer modo, um dia vou morrer na mesma, que se lixe.
Agora, sempre que alguém me olha de esguelha, com ar de quem reprova o meu cigarro, não ligo. É-me fácil abstrair-me desses olhares severos; basta-me lembrar o sabor dos cigarros de eucalipto.
Olha, vai um cigarrinho?
Carlos Caldeira