mardi, janvier 20, 2004
10 Gin’s de Sonho
Pouco passava da meia-noite e tudo estava a correr bem. Aquele convite foi das melhores coisas que me ofereceram nos últimos meses. As festas à beira-mar revitalizam-me o corpo e a alma. E, claro, o Gin estava óptimo, tanto quanto as conversas.
- Olá Filipa. Vejo que a sussurrar como estão, tu e a Joana, só podem estar na má língua – disse eu, mais com vontade de meter conversa do que outra coisa; são feias, as duas. Mesmo de noite.
- Não estamos a dizer mal. Estamos só a comentar. Queres saber o quê? - disse logo a Filipa, já de boca aberta para me sussurrar a resposta. Mas não lhe dei tempo.
- Quero! – respondi-lhe antes que ela entrasse nos normais monólogos a que me já habituou (chego mesmo a passar pelas brasas e ela não dá por nada).
- Vês, ali ao canto esquerdo do bar, aquele gajo de calças de ganga e pólo azul? Sim, aquele. Está a dançar.
- Sim Filipa. E daí? Estamos numa festa, é suposto dançar-se.
- Ele dança porque quer seduzir. E quer seduzir porque é um homem.
Olhei-a de frente e pensei, de boca semi-aberta, mas sem proferir palavra: «Feia como és, bem podes dançar para mim, mesmo nua. Não levas nada». E logo lhe disse:
- Pois estás a ver aquela loira, ali do mesmo canto esquerdo, a que está a dançar com o teu suposto sedutor de polo azul?
- Sim, conheço-a. É uma grande amiga minha.
- Pois fica sabendo que passa a vida a fazer broches ao pessoal.
- Não acredito.
- Pois, bem podes acreditar. Aposto que se fosses um homem ela já te tinha feito pelo menos um.
- Mas porquê?
- Faz broches porque não é verdadeiramente desejada pelos homens. É um assunto em que deverias começar a pensar melhor -, disse-lhe, e, acto contínuo, pensei, «Foda-se! Nem assim. A ti não te como. Até de noite és feia».
-És maldoso! Que raio, estamos numa festa!
- Eu sei Filipa. É por isso que o gajo dança para seduzir, e ela lhe fará um broche para se sentir desejada. Estou apenas a comentar.
Tão bem que estava a começar a noite e logo teve de azedar a conversa. Beijei, ao de leve, o pescoço da Filipa (que merda de perfume que ela usa), assim como que em jeito de pedido de desculpa. E fugi - literalmente -, para uma mesa um pouco ao lado, onde estava sentada uma bonita morena - bem as mulheres ficam sempre mais bonitas depois do meu terceiro Gin tónico.
- Olá! Óptima festa, não acha?
- Sim. Adoro festas à beira-mar.
Eu sou daqui, ela dali, andou por aqui e por ali, conhece fulano e sicrano, faz isto e aquilo. Culta, uma morena culta, e bonita - cada vez mais bonita; a beleza de uma mulher é proporcional à quantidade de Gin bebido por um homem. Fartámo-nos de falar. Perdi no entanto grande parte da conversa. Aquele decote. Que raio de decote. Incomodava-me. Como pode uma morena bonita e culta vir para uma festa à beira-mar com um decote tão curto? Comecei a irritar-me. Ao menos que se baixasse um pouco, que deixasse cair qualquer coisa e a apanhasse. Nada.
Estava no quinto Gin e a morena não podia ser mais bonita. Parei de beber e decidi-me a expressar todos os meus sentimentos, de um modo directo, sem rodeios. Na verdade, tudo o que é espontâneo é sincero.
- Estou a adorar a conversa. Mas tenho de lhe fazer uma pergunta.
- Faça querido. Faça as que quiser. Desde que acabe a foder comigo pouco me importa o que está para aí a dizer.
A sinceridade é uma coisa linda.
Carlos Caldeira
- Olá Filipa. Vejo que a sussurrar como estão, tu e a Joana, só podem estar na má língua – disse eu, mais com vontade de meter conversa do que outra coisa; são feias, as duas. Mesmo de noite.
- Não estamos a dizer mal. Estamos só a comentar. Queres saber o quê? - disse logo a Filipa, já de boca aberta para me sussurrar a resposta. Mas não lhe dei tempo.
- Quero! – respondi-lhe antes que ela entrasse nos normais monólogos a que me já habituou (chego mesmo a passar pelas brasas e ela não dá por nada).
- Vês, ali ao canto esquerdo do bar, aquele gajo de calças de ganga e pólo azul? Sim, aquele. Está a dançar.
- Sim Filipa. E daí? Estamos numa festa, é suposto dançar-se.
- Ele dança porque quer seduzir. E quer seduzir porque é um homem.
Olhei-a de frente e pensei, de boca semi-aberta, mas sem proferir palavra: «Feia como és, bem podes dançar para mim, mesmo nua. Não levas nada». E logo lhe disse:
- Pois estás a ver aquela loira, ali do mesmo canto esquerdo, a que está a dançar com o teu suposto sedutor de polo azul?
- Sim, conheço-a. É uma grande amiga minha.
- Pois fica sabendo que passa a vida a fazer broches ao pessoal.
- Não acredito.
- Pois, bem podes acreditar. Aposto que se fosses um homem ela já te tinha feito pelo menos um.
- Mas porquê?
- Faz broches porque não é verdadeiramente desejada pelos homens. É um assunto em que deverias começar a pensar melhor -, disse-lhe, e, acto contínuo, pensei, «Foda-se! Nem assim. A ti não te como. Até de noite és feia».
-És maldoso! Que raio, estamos numa festa!
- Eu sei Filipa. É por isso que o gajo dança para seduzir, e ela lhe fará um broche para se sentir desejada. Estou apenas a comentar.
Tão bem que estava a começar a noite e logo teve de azedar a conversa. Beijei, ao de leve, o pescoço da Filipa (que merda de perfume que ela usa), assim como que em jeito de pedido de desculpa. E fugi - literalmente -, para uma mesa um pouco ao lado, onde estava sentada uma bonita morena - bem as mulheres ficam sempre mais bonitas depois do meu terceiro Gin tónico.
- Olá! Óptima festa, não acha?
- Sim. Adoro festas à beira-mar.
Eu sou daqui, ela dali, andou por aqui e por ali, conhece fulano e sicrano, faz isto e aquilo. Culta, uma morena culta, e bonita - cada vez mais bonita; a beleza de uma mulher é proporcional à quantidade de Gin bebido por um homem. Fartámo-nos de falar. Perdi no entanto grande parte da conversa. Aquele decote. Que raio de decote. Incomodava-me. Como pode uma morena bonita e culta vir para uma festa à beira-mar com um decote tão curto? Comecei a irritar-me. Ao menos que se baixasse um pouco, que deixasse cair qualquer coisa e a apanhasse. Nada.
Estava no quinto Gin e a morena não podia ser mais bonita. Parei de beber e decidi-me a expressar todos os meus sentimentos, de um modo directo, sem rodeios. Na verdade, tudo o que é espontâneo é sincero.
- Estou a adorar a conversa. Mas tenho de lhe fazer uma pergunta.
- Faça querido. Faça as que quiser. Desde que acabe a foder comigo pouco me importa o que está para aí a dizer.
A sinceridade é uma coisa linda.
Carlos Caldeira