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mardi, décembre 16, 2003

Carta do Alentejo 

Enviou-me o meu amigo Joaquim Godinho, da terra mais fina de Portugal, Seda, no concelho de Alter do Chão, esta brilhante prosa:

“Por volta dos fins dos gloriosos idos de setenta, o meu amigo Tonhão, costumava dizer: «Eu estou aqui no meio destes montes, mas sei tudo o que se passa no país!»
Tomara eu, hoje, apesar do advento da Aldeia Global e da Sociedade da Informação, ter a ingenuidade de pensar e dizer o mesmo.
Como não, procuro ler o modo como os outros vêm este turbilhão de acontecimentos que é o mundo de hoje. Socorro-me assim desta nova mania, os blogs. Se bem que me aborreça que a maioria seja de direita… (isto para não os qualificar de outra maneira).
Domingo passado estive em mais um que me fez rir. Numa prosa corrida, que me pareceu feminina pela forma e loira pela profundidade, alguém discorria sobre as virtudes do “auto conhecimento” e da importância de não nos preocuparmos com a avaliação dos outros desde que actuemos de acordo com a nossa consciência.
Não é a primeira vez que tomo conhecimento destes dilates, mesmo vindos de pessoas com “pano no colarinho”, como soe dizer-se.
Vem-me sempre à memória um gatinho que eu tive, e que adorava brincar com o próprio rabo. Passava horas às voltas sobre si sem chegar a lado nenhum. E que importância pode ter a opinião que temos de nós mesmos?
Nós nunca nos conhecemos, porque temos sempre uma percepção distorcida de nós. É só preciso ouvir a nossa voz gravada e perceber que a nossa oralidade verdadeira é a que os outros ouvem e não a que nos chega a nós. Basta-me lembrar da quantidade de pessoas que conheço, que se têm em alta conta e que não passam de filhos da mãe.
No meu entender, nós somos a imagem que os outros têm de nós e se nos queremos encontrar, devemos procurar-nos nos outros. Nós somos o que os outros pensam de nós, o resto é retórica.”

Nota: "pano no colarinho" como soe dizer-se.
Antigamente, quem não tinha de seu não usava camisas de colarinho (pano)
soe - do léxico camoniano -costume, uso.
"No tempo em que de amor morrer soía"

CC
abcd2003@tiscali.fr

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Autor: Gustavo Aleixo Weblog Commenting by HaloScan.com
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