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mardi, novembre 11, 2003

Saga da culpa! 

Um desabafo, com todo o sentido, enviado pela minha amiga Sandra Baptista:
“A culpa morre solteira! E repetem, a culpa morre solteira!
Porque morre a culpa solteira em Portugal?
Os portugueses deparam-se diariamente com culpas solteiras, nos vários níveis da sociedade portuguesa e vou apenas falar de algumas das minhas constatações de Culpas Solteiras.
Na saúde: a marcação de consultas muda de normas todos os dias, como se os portugueses, além de tudo o que têm que decorar, também tivessem que decorar as normas internas de funcionamento dos Centros de Saúde. Vou contar a última, só a última, por que passei. Para quase todas as mães portuguesas, esta é uma época muito agitada, corre-corre para comprar os livros, corre-corre para os cadernos e os lápis e as canetas, e a mochila também. Depois desta canseira, depara-se com outro rol de actividades como declarações médicas: para a escola, para a piscina, para outra actividade desportiva que o filho frequente, etc.
Então quando quis obter uma simples declaração médica da boa saúde do meu filho, quase que perdi completamente a minha. Dirigi-me ao meu Centro de Saúde, que na realidade devia ser chamado de Centro de Paciência, para marcar uma consulta. A médica de família estava de férias, o normal no mês de Agosto! O país está de férias! Então, como as consultas infantis têm dia marcado – ainda não arranjámos forma de programar as nossas crianças para só adoecerem nesses dias, pré-estipulados –, ficou marcada para 10 de Setembro a dita consulta. Informaram-me que apesar de na folha de marcação dizer que sou o nº 7, para as 17 horas, teria que estar no centro às 14 horas, o que na altura, naturalmente, me deixou indignada.
Entre as 14 horas e as 17 horas que poderia eu fazer de útil por este país, estupidamente sentada numa sala a abarrotar de gente, porque todos temos que aparecer às 14 horas?! “Esperar!”. Esperar...! Não me tinha dado conta que era um acto inteligente ficar sentado a perder a paciência durante 3 horas!? “Não é caso único!”, diz a funcionária, que por questões de profissão tem que ali estar, não uma tarde, mas o dia inteiro!
Caso único! Claro que não! Pelo menos posso ter a garantia que pelos menos 12 outras pessoas estariam na mesma situação! Falta de inteligência colectiva! Encostados assim uns aos outros talvez possamos chamar, normalidade!
E o país poderá algum dia ser considerado produtivo quando por uma mera declaração, que normalmente tem duas linhas, numa letra que ninguém percebe, duas vinhetas e um carimbo do Centro, porque o monograma já vem tipografado, poderá custar uma tarde de trabalho, aos meus rendimentos?
E a senhora Ministra das Finanças, todos nós, aqueles que apresentam declarações de IRS, poderemos dizer que foi uma tarde produtiva?! E os meus alunos, o que aprenderam nas minhas horas sentada a perder a paciência e a massacrar o meu filho, num cubículo chamado de sala de espera?!
Então, como a consulta estava marcada para as 17 horas, no papel que “sai pelo computador”, palavras da funcionária, naturalmente só me apresentei no Centro a essa hora, mas a minha ficha de entrada, depois de 10 outros minutos para que o computador deitasse mais uma folha cá para fora, foi ‘expulsa’ do consultório da médica com um resmungo “Sabem perfeitamente que têm que estar aqui às 2 horas”.
Se eu pensava que me tinha livrado da dura tarefa de paciência perante o Serviço Nacional de Saúde, enganei-me, porque na realidade estive pacientemente à espera, à porta do consultório, para me indignar com tal atitude. Quando acabou de atender a paciente que estava lá dentro, 20 minutos depois, indignei-me com a médica, mas ela não se importou com o facto de entre as 14 horas e as 16:30 horas estivesse a contribuir para o aumento da produtividade do país.
Vim com 2 papéis na mão! Não...! Não é a referida declaração. Um é a marcação da consulta quase um mês antes, o outro é a folha recusada expulsa pela médica.
Sabem quanto custou ao país? à minha família?, porque à paciência fica pela imaginação de cada um. Vamos a contas de somar: 2 horas sem dar formação mais 4 bilhetes de metro, mais horas de prolongamento da escola do meu filho, mais paciência (quanto custa uma hora de paciência?)!
Parece que todos perdemos! Eu diria que estou a viver num país rico e produtivo, que os seus cidadãos podem dar-se ao luxo de não trabalhar para se entreterem a percorrer os corredores do Centro de Saúde/Paciência!
A culpa é de quem?
Depois desta saga de Centro de Saúde, estava eu a descansar no sofá, lamentando a inutilidade e ignorância das últimas horas do meu dia, quando o jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho da SIC diz “A culpa morre solteira!”.
Que intocável se tornou esta senhora CULPA que deve ser muito importante, pois todos falamos dela, vemo-la materializada no nosso dia-a-dia, mas que não conseguimos que ela se case e nos deixe em paz!
Quem quer casar com a senhora Culpa, que é formosa/forte bonitinha?
Um maridinho para ela!
Não deixem esta querida morrer solteira!
Eu sei, todos sabemos, que esta senhora Culpa além de não arranjar marido, pelos vistos tem mais vidas que qualquer gato!
A justiça, dá injustiça; a saúde faz-nos perdê-la e ainda por cima temos que andar a confirmar onde pomos os pés, ou as rodas dos nossos carros, porque as pontes caem, e nem pelo ar podemos estar seguros porque os viadutos também nos caiem em cima!
Alguém me poderá responder como pode um português ser produtivo com uma gestão tão complicada?!
Se olhamos para o céu, cai o chão! Se o chão cai, ninguém teve culpa. Se por acaso a queda do chão ou do “céu” não nos acertar ou acertar pelo mínimo, teremos uma segunda batalha, as peripécias de um centro de saúde ou hospital português, como um amigo meu que foi atropelado numa passadeira: esteve num hospital público 7 horas, todo esmurrado mas mandado para casa. A sorte dele (como é vulgar dizerem!, esta é prima da Culpa), é que pertence à Marinha, e como tinha que pedir baixa teve que ser visto por uma equipa médica da Marinha. Então aquela criatura cumpridora, a atravessar na passadeira, atropelado por um chico esperto que queria passar 3 carros de uma só vez, - os tontos estão parados para quê?!, - aproveitando a reentrância existente para os autocarros, foi parar a uma maca, entretanto foi colocado no chão, pela falta de macas, e por fim considerado como apto para ir para casa, descobrem então na Marinha que afinal a criatura tinha um fractura craniana!
Aqui a culpa morreu solteira também. Solteira, mas não só! O chico esperto tinha seguro que pagou tudo, incluindo os novos dentes perdidos no alcatrão da estrada e todos os outros prejuízos ao meu amigo; o hospital está convencido que aquele cidadão estava só um pouco maltratado pelo alcatrão, porque o meu amigo pertence aos cépticos que acham que não vale a pena reclamar!
A culpa morreu solteira! Mas acompanhada! Por quem? Tantos outros casos não noticiados pelo Rodrigo! Este também não foi!
Como é possível num país onde existem Estatísticos que estudam a probabilidade das coisas, mas nunca se encontra a probabilidade de uma ponte cair, ou um viaduto. Engenharia...!
Mas nós também temos engenheiros e uma obra é sempre constituída por várias pessoas, engenheiros para estudar a questão, fiscais para verificar, e trabalhadores especializados para a fazer. Como pode no meio de tanta sabedoria uma obra ficar mal feita? Como pode desta forma cair em cima de nós sem aviso prévio (claro)?!
Então, pela análise, nós andamos com vários grandes problemas: o chão (ponte), Castelo de Paiva, foge, ou abate-se como no Terreiro do Paço; o céu cai (viaduto) como na IC19; a saúde que não funciona, ou seja, tira-nos a saúde a educação também não, porque os professores andam no centro de saúde à procura de declarações! E as ciências andam também a falhar neste país.
Aprendemos cedo que existe a erosão dos solos, dos materiais, mas a Engenharia, não se socorre da sabedoria ou desacredita a Geologia, a Geografia e a Estatística para detectar que este facto é real; provavelmente (diz a Estatística) vai cair, porque houve erosão (diz a Geologia) e as correntes mudaram (diz a Geografia)! Quando cai, a Engenharia, socorre-se da filosofia para dizer “É a lei da borboleta!”!
Bem, parece que o fim dos portugueses poderá ser só um... a fé, que pelo menos a divina providência funcione!...
E podemos dizer, sem margem para dúvidas, que com tanta incúria dos nossos serviços, só esta funciona, apesar de não ter endereço físico (sede fiscal), nem electrónico, nº de telefone, nº telemóvel ou sequer esteja posicionada na rede chamada Internet...
Não podemos reclamar...!”
abcd2003@tiscali.fr

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Autor: Gustavo Aleixo Weblog Commenting by HaloScan.com
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