mardi, novembre 11, 2003
Reencontro
E se ela sempre aparecesse? Sim, ela telefonasse: «olha, estou aqui»?. Não sei o que faria. Certamente lhe responderia «Sim, e eu cá continuo, no mesmo sítio de sempre, à tua espera.».
Depois de 12 horas de trabalho seguido, qualquer um fica cansado, com o cérebro confuso e a visão meio enevoada. Foi por isso que, à primeira, não acreditei no que estava a ver, na pessoa para quem estava a olhar. É do cansaço. Só pode ser. E olhei para o outro canto o bar. De qualquer modo, as possibilidades de a encontrar, assim sem mais nem menos, em Lisboa, no primeiro bar a que ia desde os últimos meses, eram bem diminutas. Voltei a vê-la quando uma mão me tocou no ombro esquerdo, uma cara me sorriu, uns lábios me beijaram a cara e uma boca me disse «Olá, sou mesmo eu». Fiquei espantado! Admirado! Não queria acreditar no que via, em quem via, ao mesmo tempo que pensava no tempo que tinha esperado por aquele encontro, aquele reencontro. Respondi-lhe com um «Olá», e um beijo, assim como que a medo. Tive de lhe tocar para ter a certeza de que era mesmo ela. Estava fora de mim, a precisar de me sentar e beber qualquer coisa bem forte. Peguei-lhe na mão, em silêncio, e puxei-a para uma das várias mesas vazias – sem me preocupar se ela estaria acompanhada ou não. Sentei-me e pedi um gin tónico ao empregado mais próximo. Continuei calado por um bom par de minutos, apesar de a continuar a olhar, boquiaberto, ainda sem acreditar na presença dela, ali mesmo à minha frente, tão perto, tão à mão de semear.
Começámos então a falar. Primeiro lembrámo-nos do nosso passado recente. Depois lembrámo-nos de todas as lembranças que tivemos um do outro ao longo de quase seis anos de silêncio. Não eram poucas. Passámos, afinal, seis anos a construir um presente que nunca existiu, mas do qual vivemos todo esse tempo. Precisámos que chegámos àquele bar a viver juntos durante seis anos, sem que nesse período de tempo nos tenhamos visto, ouvido, escrito. Sempre longe um do outro e presentes num e noutro, sempre, todo aquele tempo.
Não resistimos. Não podíamos esperar mais.
Paguei a conta e saímos do bar. Fomos para o hotel – certificarmo-nos de que ainda conhecíamos os nossos corpos. Seis anos depois a mesma história de sempre recomeçava. Agora noutro lugar, noutro pais. Mas sempre igual. O mesmo amor, a mesma paixão, que nunca tinha acabado, afinal de contas, nunca tinha desaparecido, voltou com toda a sua força. Desfizemos vidas feitas e voltámos a refazê-las. Mudámos a história das nossas histórias. Recomeçámos tudo do princípio, tudo de novo.
CC
abcd2003@tiscali.fr
Depois de 12 horas de trabalho seguido, qualquer um fica cansado, com o cérebro confuso e a visão meio enevoada. Foi por isso que, à primeira, não acreditei no que estava a ver, na pessoa para quem estava a olhar. É do cansaço. Só pode ser. E olhei para o outro canto o bar. De qualquer modo, as possibilidades de a encontrar, assim sem mais nem menos, em Lisboa, no primeiro bar a que ia desde os últimos meses, eram bem diminutas. Voltei a vê-la quando uma mão me tocou no ombro esquerdo, uma cara me sorriu, uns lábios me beijaram a cara e uma boca me disse «Olá, sou mesmo eu». Fiquei espantado! Admirado! Não queria acreditar no que via, em quem via, ao mesmo tempo que pensava no tempo que tinha esperado por aquele encontro, aquele reencontro. Respondi-lhe com um «Olá», e um beijo, assim como que a medo. Tive de lhe tocar para ter a certeza de que era mesmo ela. Estava fora de mim, a precisar de me sentar e beber qualquer coisa bem forte. Peguei-lhe na mão, em silêncio, e puxei-a para uma das várias mesas vazias – sem me preocupar se ela estaria acompanhada ou não. Sentei-me e pedi um gin tónico ao empregado mais próximo. Continuei calado por um bom par de minutos, apesar de a continuar a olhar, boquiaberto, ainda sem acreditar na presença dela, ali mesmo à minha frente, tão perto, tão à mão de semear.
Começámos então a falar. Primeiro lembrámo-nos do nosso passado recente. Depois lembrámo-nos de todas as lembranças que tivemos um do outro ao longo de quase seis anos de silêncio. Não eram poucas. Passámos, afinal, seis anos a construir um presente que nunca existiu, mas do qual vivemos todo esse tempo. Precisámos que chegámos àquele bar a viver juntos durante seis anos, sem que nesse período de tempo nos tenhamos visto, ouvido, escrito. Sempre longe um do outro e presentes num e noutro, sempre, todo aquele tempo.
Não resistimos. Não podíamos esperar mais.
Paguei a conta e saímos do bar. Fomos para o hotel – certificarmo-nos de que ainda conhecíamos os nossos corpos. Seis anos depois a mesma história de sempre recomeçava. Agora noutro lugar, noutro pais. Mas sempre igual. O mesmo amor, a mesma paixão, que nunca tinha acabado, afinal de contas, nunca tinha desaparecido, voltou com toda a sua força. Desfizemos vidas feitas e voltámos a refazê-las. Mudámos a história das nossas histórias. Recomeçámos tudo do princípio, tudo de novo.
CC
abcd2003@tiscali.fr