lundi, octobre 27, 2003
O poder cega
«Chama polícia, chama polícia», gritava um dos três ucranianos apanhados no comboio sem bilhete. «Chama polícia, chama polícia», repetia outro.
Os seis fiscais da CP, que logo rodearam os três ucranianos, como se fosse um jogo de polícia e ladrão, apresentavam uma cara de orgulho e repetiam de quando em quando: «hoje já sacámos três». E telefonaram para a PSP: «pedimos a comparência de agentes à Gare do Oriente. Temos três homens de leste para identificar.»
Faltava apenas que os fiscais da CP tivessem tirado um retrato com os ucranianos deitados no chão.
De tão orgulhosos que estavam, os homens da CP não perceberam que os ucranianos continuavam a repetir «chama polícia, chama polícia», ao mesmo tempo que lhes diziam que os «documentos estão com o patrão».
Por acaso, reparei nos ucranianos a entrarem para o comboio, escolheram a carruagem a dedo, aquela que tinha revisores. Deram a sensação de querem ser entregues às autoridades. Possivelmente, são mais três vítimas do trabalho escravo, das máfias de leste e de patrões sem escrúpulos - que nunca serão empresários. Mas os revisores da CP não deram por nada, apenas se sentiram com o dever feito: «Hoje já sacámos três». E eles devem ter agradecido.
O poder de poder mandar alguém ser detido para identificação foi superior a qualquer outro sentimento. Ao que parece, os ucranianos estarão agora em liberdade, talvez de volta à Ucrânia, libertados por quem os pensou ter prendido.
CC
abcd2003@tiscali.fr
Os seis fiscais da CP, que logo rodearam os três ucranianos, como se fosse um jogo de polícia e ladrão, apresentavam uma cara de orgulho e repetiam de quando em quando: «hoje já sacámos três». E telefonaram para a PSP: «pedimos a comparência de agentes à Gare do Oriente. Temos três homens de leste para identificar.»
Faltava apenas que os fiscais da CP tivessem tirado um retrato com os ucranianos deitados no chão.
De tão orgulhosos que estavam, os homens da CP não perceberam que os ucranianos continuavam a repetir «chama polícia, chama polícia», ao mesmo tempo que lhes diziam que os «documentos estão com o patrão».
Por acaso, reparei nos ucranianos a entrarem para o comboio, escolheram a carruagem a dedo, aquela que tinha revisores. Deram a sensação de querem ser entregues às autoridades. Possivelmente, são mais três vítimas do trabalho escravo, das máfias de leste e de patrões sem escrúpulos - que nunca serão empresários. Mas os revisores da CP não deram por nada, apenas se sentiram com o dever feito: «Hoje já sacámos três». E eles devem ter agradecido.
O poder de poder mandar alguém ser detido para identificação foi superior a qualquer outro sentimento. Ao que parece, os ucranianos estarão agora em liberdade, talvez de volta à Ucrânia, libertados por quem os pensou ter prendido.
CC
abcd2003@tiscali.fr